Vivi por trinta e quatro anos sob o jugo de chuveiro elétrico. Ah, lastimável invento! Já gastei mais de uma crônica amaldiçoando seus fabricantes; homens maus, que ganham a vida propagando a falácia de temperatura com pressão, quando bem sabemos que, na gelida realidade dos azulejos, ou a água sai abundante e fria ou é um fiozinho minguado e escaldante sob o qual nos envolhemos, o cucuruto no Saara e os pés na Patagônia, sonhando com o dia em que, libertos das inúteis correntes ( de elétrons), alcançaremos a terra prometida do aquecimento central. Reclamo de barriga cheia? Sem dúvida. Há problemas bem mais sérios neste mundo, mas sejamos honestos: a morte do vizinho não anula minha dor de dente - e um banho ruim é dez vezes mais triste que uma dor de dente. Afinal, um molar, quando para de doer, não é capaz por si só de nos dar alegria. Já o banho, quando é bom... Que contentamento uterino é ter a pele envo...