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Mostrando postagens com o rótulo Ventania

Ventos, Poídos Ventos - poema de Joaquim Cardozo

Ventos, poídos ventos! Gastos no seu tecido Trapos que se penduram Moles da verde palha. Ventos, poídos ventos Que a tarde em cinza espalha. Vento sobre os coqueiros, De agônicas lembranças, Como passa banzeiro Sobre as copas mais altas, Em desleixados vôos De pássaros pernaltas. Ventos, que paraventos Poderiam deter-vos? folhagem de longímquos Adeuses adejantes; De marginais outonos Noturnos caminhanres! Vento sobre os coqueiros, Tristezas de alto-mar, Murmúrio gotejante Entre as folhas molhadas; Vento sobre os coqueiros Em ondas desmanchadas. Essas que ao vento vêm Belas chuvas de junho! Que saias lhes vestiram O corpo em pele fria Deixando ver somente Saudade e maresia? Ventos, naves de vento, Cargueiros de amarugens; Colhendo os sons aflitos Desse afrontado mar Fazeis a voz dolente Que além ouço cantar. Ventos, Poídos ventos Nota: o blog manteve a grafia original.

Vento, Cecília Meireles

Passaram os ventos de agosto, levando tudo. As árvores humilhadas bateram, bateram com os ramos no chão. Voaram telhados, voaram andaimes, voaram coisas imensas; os ninhos que os homens não viram nos galhos, e uma esperança que ninguém viu, num coração. Passaram os ventos de agosto, terríveis, por dentro da noite. Em todos os sonos pisou, quebrando-os, o seu tropel. Mas, sobre a paisagem cansada da aventura excessiva - sem forma e sem eco, o sol encontrou as crianças procurando outra vez o vento para soltarem papagaios de papel.  Imagem:The White Orchart -Van Gogh - 1888  

A Mudança, Marques Rebelo.

     A mudança foi repentina! As estrelas desapareceram bruscamente da noite. Saindo não sei donde, nuvens, cada vez mais negras, amontoavam-se num canto e acabaram por tomar todo o céu. Negror. Então, veio o vento e sacudiu o ar estático , abafado, vergou as árvores, bateu janelas na vizinhança, trouxe gritos distantes para meus ouvidos inquietos. Levantou-se poeira nas ruas, rodopiou, subiu, entrou pelas persianas sujando os móveis.       Mamãe, aflita, que estava na hora da poção, chegou como uma sombra, cerrou as persianas, mas o vento era sutil e insinuando-se por frestas despercebidas, balançava da mesma forma as bambinelas.      - As bambinelas estão dizendo adeus!     Não sei como me acudiu logo o pensamento estranho: As bambinelas estão me dizendo adeus! Ou estarão me chamando?  Sim, é possível  que estejam. Mas para onde? Sinto-me fraco, uma dormência espetante como milhões de alfinetes p...

Crônica cantada: Ventania, Geraldo Vandré

Meu senhor, minha senhora, vou falar com precisão. Não me negue nessa hora, seu calor, sua atenção A canção que eu trago agora fala de toda a nação. Andei pelo mundo afora querendo tanto encontrar um lugar prá ser contente onde eu pudesse mudar. Mas a vida não mudava mudando só de lugar. Que a morte que eu vi no campo encontrei também no mar. Boiadeiro, jangadeiro iguais no mesmo esperar, que um dia se mude a vida em tudo e em todo tugar. Prá alegrar eu tenho a viola prá cantar, minha intenção, prá esperar tenho a certeza que guardo no coração. Prá chegar tem tanta estrada prá correr meu caminhão. Já soltei o meu cavalo. Já deixei a plantação. Eu já fui até soldado, hoje muito mais amado sou chofer de caminhão. Já gastei muita esperança. Já segui muita ilusão. Já chorei como criança atrás de uma procissão. Mas já fiz correr valente quando tive precisão. Amor prá moça bonita, ...