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Monólogo de Natal, Aldemar Paiva

Não gosto de você, Papai-Noel, também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia... Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humanidade, jogavam pedras nessa fantasia! Você talvez nem se recorde mais, cresci depressa e me tornei rapaz sem esquecer, no entanto o que passou... Fiz-lhe um bilhete pedindo um presente e a noite inteira eu esperei contente, chegou o sol e você não chegou! Dias depois, meu pobre pai, cansado, trouxe um trenzinho feio, enferrujado, que me entregou com certa hesitação... Fechou os olhos e balbuciou: “É pra você, Papai-Noel mandou...” e se esquivou, contendo a emoção! Alegre e inocente, nesse caso pensei que o meu bilhete, com atraso chegara às suas mãos no fim do mês... Limpei o trem, dei corda, ele partiu deu muitas voltas, meu pai sorriu e me abraçou pela última vez! O resto só eu pude compreender quando cresci e comecei a ver todas as coisas com realidade... Meu pai chegou um dia e disse a medo: “_ Onde é ...

O Ator, Carlos Drummond de Andrade

Era uma escravo fugido por si mesmo libertado. Meu bisavô foi à Mata vender burro brabo fiado. Chega lá, deita no rancho para pitar descansado. Duzentas, trezentas léguas em macho bem arreado, por muito que um homem seja de ferro, fica estrompado. "Vou dormir, sonhar meu sonho de cobre e mulher trançado. Por favor ninguém me amole que trago dependurado no arção da sela meu coldre com pau-de-fogo. Obrigado." "Dormir tão cedo, meu amo? se no rancho do outro lado do rio tem espetac'lo que há de ser de vosso agrado. Faz três dias  ninguém cuida na roça e no povoado senão de ver esta noite  A Vingança do Passado. "

Crônica cantada: Milton Nascimento - Morro Velho

No sertão da minha terra, fazenda é o camarada que ao chão se deu Fez a obrigação com força, parece até que tudo aquilo ali é seu Só poder sentar no morro e ver tudo verdinho, lindo a crescer Orgulhoso camarada, de viola em vez de enxada Filho do branco e do preto, correndo pela estrada atrás de passarinho Pela plantação adentro, crescendo os dois meninos, sempre pequeninos Peixe bom dá no riacho de água tão limpinha, dá pro fundo ver Orgulhoso camarada, conta histórias prá moçada Filho do senhor vai embora, tempo de estudos na cidade grande Parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante Não esqueça, amigo, eu vou voltar, some longe o trenzinho ao deus-dará Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha.