Você me acorda no meio da noite e eu que navegava tão distante cravada a proa em espumas desfraldados os sonhos afloro de repente entre as paradas ondas dos lençóis a boca ainda salgada mas já amarga molhada a crina encharcados os pelos na maresia que do meu corpo escorre. Cravam-se ao fundo os dedos do desejo. A correnteza arrasta. Só quando o primeiro sopro escapar entre os lábios da manhã levantarei âncora. Mas será tarde demais . O sol nascente terá trancado o porto e estarei prisioneira na vigília. (Em: Gargantas Abertas - Ed. Rocco 1998)