Eu acabo de começar minha terceira série de sessenta abdominais quando ouço a chave girar na porta de entrada. Ela chega até a sala e atira a bolsa em cima da mesa. É inconfundível o choque do metal da sua arma no tampo de vidro. Aproxima-se e percebo que me fita com o ar de quem mal consegue disfarçar o ódio, e tenta exibir um desprezo que não existe. Não falo nada, me limito a manter a respiração compassada e ruidosa ao fingir concentração no exercício. Vista nesta perspectiva, de baixo pra cima, ela parece bem mais alta do que realmente é, as coxas parecem mais grossas e o cabelo fica mais bonito. Próximo à minha cabeça, no entanto, está fincado o seu scarpin vermelho, que somado ao seu confuso semblante me deixa um tanto incomodado. Mas não demora e ela some no corredor após soltar um daqueles soluços típicos de quem vai chorar. A pancada na porta do quarto corre pelo assoalho e retumba nos meus ouvidos. Fico p...