Quem mora em prédio sabe do que estou falando. Há todo um mecanismo sociológico engendrando as relações entre condôminos. estes, na maioria, têm uma convivência precária, de piscina e elevador.Não se visitam, nem saem juntos, mas conversam animadamente nos encontros episódicos, como se fossem velhos amigos. Gracejam sobre futebol, falam mal do síndico e da República.Parecem detestar o seu país. "Só mesmo no Brasil!", costumam dizer, referindo-se a uma sacanagem qualquer. São favoráveis à pena de morte, votam em Maluf. Os condôminos, com raras exceções, fazem questão do máximo respeito à hierarquia dos elevadores: o social para as famílias residentes, o de serviço, para empregadas domésticas. Pois foi neste último que me aconteceu entrar às pressas. Sem olhar direito para uma pessoa que lá estava, cumprimentei maquinalmente: bom-dia! Não houve resposta. Era uma senhora de certa idade, usando avental de empregada. Olhava-me com um certo espanto ...