"Nós somos ricos?" perguntei à minha mãe, aos cinco anos. Eu achava que sim. Afinal, para mim, os pobres eram aquelas pessoas que eu via com prematura angústia, através do vidro de nosso Passat verde-musgo, na pequena favela Juscelino Kubitschek, perto de casa. Minha mãe disse que não éramos ricos nem pobres, éramos de classe média. Achei o termo meio nebuloso e confesso que só fui entendê-lo realmente, em suas profundas implicações socioexonômicas-culturais, na última terça, durante o banho, quando o vizinho de cima deu a descarga e a água do meu chuveiro pelou. Eu gritei um palavrão, abri mais a torneira e, quando minhas costas voltavam a uma temperatura suprtável, pensei:ah, então é isso. Ser de classe média significa ter uma proximidade compulsória com os outros e, consequentmente, estar em constante negociação com o mundo. Afiinal, você não está entre a minoria que dita as regras, nem junto à massa que apenas as segu...