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Mostrando postagens com o rótulo Itália

Soneto de Michelangelo, tradução de Jorge Pontual

Com os belos olhos teus vejo a luz clara que com os meus, cegos, já não posso olhar;   com teus pés posso um peso carregar, o que pra mim, manco, é coisa rara. Com tuas asas pra sempre eu voara; com teu engenho ao céu posso chegar; fazes-me empalidecer ou corar, gelado ao sol, na neve, um Saara. O teu querer é só o querer meu, meu sentimento nasce no teu peito, no teu alento a minha voz busquei. Como lua solitária sou eu, que no céu não se pode ver direito a não ser que reflita o astro-rei

Uma Italiana na Suíça, Clarice Lispector

          Rosa perdeu os pais quando era pequena. Os irmãos se espalharam pelo mundo e ela entrou para o orfanato de um convento. Lá levava uma vida sóbria e dura com as outras crianças. Durante o inverno o grande casarão permanecia frio, e os trabalhos não se interrompiam.       Ela lavava roupa, varria os quartos, costurava. Enquanto isso as estações se sucediam. Com a cabeça raspada e o longo vestido de fazenda grosseira, às vezes, com a vassoura na mão, espiava pelos vidros da janela. Outono era a estação de que mais gostava porque não era preciso sair para vê-lo: atrás dos vidros as folhas caíam amareladas no pátio, e isso era o outono.      Nesse convento suíço, quando um homem pisava no patamar, lavava-se o chão e queimava-se álcool em cima. Depois vinha de novo o inverno, e as mãos se avermelhavam, abriam-se em feridas, a cama gelada impossibilitava o sono, e criava sonhos acordados...

Porque Esta é a Paz, Marina Colasanti

     O primeiro dia. Imagem de: myscoops.com      Barulho festivo de repente,já sem costume. E a luz que sobra, toda, acesa.      Os rádios ligados na notícia única.   "   o mundo inteiro... as assinaturas... sua Santidade... depois de tanto..."      Depois de tanto, tanto sofrimento.      Acabou      Gente na rua, e o sorriso permitido. Mãe, podemos ir à praça? Os americanos chegaram.      Os americanos chegaram um dia ao meu país, e a  guerra acabou.

Quintino em festa: 60 anos de Zico

                                                                                         Zic o Estátua comemorative dos 60 anos de Zico      O radialista Celso Garcia foi a Quintino,no Rio, e ficou pasmo com um garoto que sabia tudo de bola. “Dê seu nome e idade”- pediu. Aí o guri disse: Artur Antunes Coimbra, ou Zico, estudo e vivo no bairro, onde nasci em 3 de março de 1953, tenho, portanto, 13 anos e sou o caçula da família. A seguir, Celso teve dos pais dele – José, padeiro lusitano e flamenguista, e Matilde a matria...

Crônicas da MPB: Trem das Onze, Adoniran Barbosa

Inicio hoje uma série que vou chmar de: Cronicas da MPB, abro neste domingo com: Trem das Onze de Adoniran Barbosa. Sem fazer sucesso, a música foi gravada pelo  autor em 1951; Somente quando foi lançada no Rio  de Janeiro, pelo grupo paulista Demônios da Garoa é que tornou-se nacionalmente conhecida. Sucesso até hoje é uma crônica da vida da periferia da cidade de São Paulo. Adoniran Barbosa, estação Jaçanã que não existe mais - Imagem do  Google Trem Das Onze Adoniran Barbosa Não posso ficar Nem mais um minuto com você, Sinto muito amor, Mas não pode ser! Moro em Jaçanã, Se eu perder esse trem Que sai agora às onze horas Só amanhã de manhã! Além disso mulher, Tem outra coisa, Minha mãe não dorme Enquanto eu não chegar! Sou filho único, Tenho minha casa prá olhar, Não posso ficar, não posso ficar..

Gavino Ledda, autor de Pai Patrão

Gavino Ledda, sarda, ex-pastor, autor de Pai Patrão , livro em que o projetou e foi transformado em sucesso de cinema, está hoje com 71 anos. Abaixo entrevista concedida por ele à Revista Época . ÉPOCA – Pai Patrão é um retrato de um momento da Sardenha? O livro seria possível hoje? Gavino Ledda – Pai Patrão não é um retrato da Sardenha, mas de uma época muito longa da nossa cultura e até de nossa história nativa. Meu livro é de uma unicidade ímpar no mundo da escritura da espécie e meus últimos textos, inéditos, demonstram a unicidade da mente da própria espécie. Um livro como o meu seguramente será sempre possível ao homem, mas somente muito raramente ocorrem ao indivíduo alguns acontecimentos simultâneos. Por exemplo: a) quando esse indivíduo tiver uma história jamais vivida e única, inclusive em condições de analfabetismo total; b) quando de tal contexto ele conseguir sair vivo com toda a mente do passado; c) quando, antes de começar a viver essa história, a natureza, sua mus...