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Soneto de Michelangelo, tradução de Jorge Pontual


Com os belos olhos teus vejo a luz clara
que com os meus, cegos, já não posso olhar;  
com teus pés posso um peso carregar,
o que pra mim, manco, é coisa rara.

Com tuas asas pra sempre eu voara;
com teu engenho ao céu posso chegar;
fazes-me empalidecer ou corar,
gelado ao sol, na neve, um Saara.

O teu querer é só o querer meu,
meu sentimento nasce no teu peito,
no teu alento a minha voz busquei.

Como lua solitária sou eu,
que no céu não se pode ver direito
a não ser que reflita o astro-rei

Comentários

  1. O tradutor bem poderia - pois tem técnica e talento para isso - estar mais atento à métrica, conferindo à sua versão a mesma musicalidade do original. Em vários versos podemos verificar esse descuido. Mas é no primeiro e terceiro versos do último terceto que o "pé quebrado" está evidente.

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