Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de maio, 2022

Partes, Marcelo Valença

A roupa cheira no varal Solta no ar um jasmim amarelo Resquício do aroma singelo Da tua nota essencial Deito-me de frente e de lado No lado bom da cama Aquele que, quando se ama Se deixa aquecido e reservado Salpico dois amores na parede De rubra intensa tinta Mas pode ser que eu minta Se de um amor tenho sede Não existe remédio genérico Nem receita milagrosa À tua presença afetuosa Nas frestas do meu ser hermético Crimes cometidos sem maldade Reviram-se culpa e desculpa Ao réu o castigo não se poupa: Paga seus delitos em saudade

Origem das Expressões(5) Bode Expiatório e Segurar a Vela

                                                                           Bode Expiatório Essa vem da Bíblia. receber a culpa por algo que não fez vem lá do cap. 16 de Levitício. O povo hebreu tinha o dia da Expiação. Organizavam vários rituais para a purificação.  Um deles, deu origem à expressão.  Era assim: tomavam 2 bodes., matavam um deles e aspergiam seu sangue no santuário o outro, o que ficava vivo era era o bode expiatório: carregava simbolicamente todos os pecados dos filhos de Israel e era abandonado no deserto para que todo o mal permanecesse distante.  Segurar a vela Essa é muito antiga... do tempo em que as velas eram o que iluminavam as casas. Na idade média, os inexperientes seguravam as velas para os mais experientes fazerem os trabalhos que precisavam fazer. Na França, os criados precisavam, mantendo-se de costas, segurar candeeiros para (tenir la chandelle)  que seus patrões mantivessem relações sexuais.  

Adulterado, Antonio Prata

     Oi. Meu nome é Antonio Prata, tenho 23 anos e algo estranhíssimo aconteceu comigo: me transformei num adulto. Deve ter sido na calada da noite, enquanto eu dormia, pois confesso que não percebi nada.  É normal, talvez diga a leitora, sem entender o meu susto: é porque não aconteceu com você - ainda.      Foi num forró, em São Paulo, que me dei conta do ocorrido. Entrei, olhei a pista e percebi que o público, antes da minha idade, estava mais jovem. Como sei que que é impossível rejuvenesce e era muito pouco provável  que aquelas quase duzentas pessoas houvessem feito cirurgias plásticas só para me enganar, havia apenas uma explicação: eu é que estava mais velho. E se eu não era mais um adolescente como eles eu só poderia ser ... um adulto! Tomei um susto.      Dias depois, outra situação me mostrou que já não era mais o mesmo. Encontrei num bar o cara que foi meu coordenador pedagógico durante o colegial. O carrasco que  me dava advertências e, uma vez até me suspendeu ( por razõe

Azuis, Marcelo Valença

Um ser tão árido, ácido De vento seco e ar cálido, pálido Esfarela-se num desejo insólito, mágico De virar o mar Ao ser tão líquido, acredita Nos seus azuis mais íntimos, aceita No seu fluir suave contínuo, acolhe Até vir a amar Por ser tão leve, inspira Livre de narcisos bélicos, expira Ao brilho do sol na água, escuta Há de vir o amor Conheça o autor:  In-voluntária . Leia Marcelo Valença em: Hora Bolas Sê Rocha Lugar Algum Encanto Futuro Longe

Origem das Expressões (4): Puxa-Saco e Santo do Pau Oco

                                                                                                                                                    Puxa-saco Nunca pensei sobre a origem dessa expressão que hoje diz respeito a pessoas que fazem de tudo para a gradar superiores ou de quem se quer tirar proveito.  Antigamente nos quarteis brasileiros os puxa-sacos eram os soldados de baixo escalão que tinham a obrigação de levar os sacos de suprimentos de seus superiores. Santo do pau oco Pagava-se valores altíssimos em impostos sobre o ouro e pedras preciosas no Brasil colonial, então para burlar a cobrança os mineradores recheavam com ouro os santos ocos feitos em madeira. Assim conseguiam passar pelas casas de fundição sem pagar muito em impostos. O passar do tempo levou a expressão a designar pessoa que quer aparentar o que não é. Falsa. Como candidatos em tempos de eleições, por exemplo.

Fingir Que Está Tudo Bem, José Luís Peixoto

        Fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto dentro de mim: será que vou morrer? olhas-me e só tu sabes: ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer: amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga. Fonte: Org.com Leia mais de José Luís Peixoto   /  Palavras para minha mãe

Irão Me Fuzilar Bem na Fronteira, Varlan Chalámov

  . Irão me fuzilar bem na fronteira, Dneprovski, um gulag de Kolimá. Foto: Emil Gataullin Bem na fronteira da consciência minha Meu sangue jorrará folhas inteiras, Algo que meus amigos angustia Quando uma estrada não dá mais pra achar No meio das montanhas que se espinham Amigos se despedem por demais, Vão proferindo uma sentença mínima .. Quando há incerteza e ânsia e não há ânimo Eu para a zona de terror irei, Obedientes eles vão mirando Enquanto eu fico sob a visão deles. .. Entretanto há guaritas de observação Que estão a serviço de seus próprios sonhos Eles vão através de seculares Frivolidades, acidentes, dores, .. Quando eu penetro numa zona assim, Já nem é minha mais: país estranho, Eles se portam pelas leis dali, As leis que existem neste nosso lado. .. Para que se encurtasse esta aflição, Para morrer, que é por demais possível, Fui dado pelas minhas próprias mãos Como nas mãos do atirador de elite. .. Меня застрелят на границе, Границе совести моей, И кровь моя зальет стра

O Travesseiro de Lenny Bruce, Luis Fernando Veríssimo

O cômico americano Lenny Bruce tinha um monólogo sobre  pornografia e hipocrisia envolvendo os usos do travesseiro. Qualquer criança americana podia ver no cinema ou na TV um travesseiro sendo usado para sufocar alguém até a morte. Terror mesmo era quando o travesseiro aparecia numa cena como a que Bruce descrevia dramaticamente. Um homem aproxima-se de uma mulher deitada na cama, segurando um travesseiro. O que vai fazer com o travesseiro? A mulher está sorrindo. Parece não saber o fim que a espera. O homem aproxima-se mais. Também está sorrindo. Ajoelha-se na cama. Levanta o corpo da mulher e… Meu Deus! Coloca o travesseiro sob o corpo da mulher! E começa a penetrá-la! A mulher geme, mas não é de dor. Em vez de usar o travesseiro para um fim socialmente aceitável como matar a mulher, o homem o está usando para aumentar seu prazer. Os dois estão se amando! Tirem as crianças da sala! Não tem nada a ver, mas sempre penso no travesseiro do Lenny Bruce quando vejo fotos de vítimas de al

Origem das Expressões (3): Cheio de Nove Horas e Negócio da China

   Cheio de Nove Horas Essa expressão sempre me intrigou: por que não 8 ou 10 horas, por exemplo? É que no século 19, Havia um horário para o recolhimento às casas. 9 horas da noite regulava, por costume, a sociedade. Quem estivesse fora da residência depois das 21h não era bem considerado, era um boêmio, não seria bem recebido, por exemplo, o marido que chegasse em casa depois do "horário regulador" das 9 da noite. Com o passar do tempo uma pessoa meticulosa, cheia de regras passou a ser considerada " cheia de nove horas".  Sem que isso fizesse qualquer referência a relógio.    Negócio da China Marco Polo tem a ver com isso! É que a partir dos relatos  dele, Marco Polo, no século 13 sobre o Oriente, a China atraiu a atenção  dos demais comerciantes da época. Há a expressão em inglês:  Chinese deal.   Como no Brasil, significa um bom ou ótimo negócio. Fonte: Revista Super Interessante Fonte para as imagens: Cheio de Nove Horas: Meto na Lata Negócio da China: Storybo

A Minha Salamandra, Fernando Sabino

Certa vez, escrevendo uma novela, precisei saber se  uma salamandra tinha quatro ou seis pernas. Já não me lembro em que episódio novelesco pretendia envolver as pernas da minha salamandra, mas a verdade é que precisava saber “e não fiquei sabendo.      Que sei eu a respeito de minhas próprias pernas”, pensava então, deixando que elas me levassem para outros caminhos, fora da ficção.      Um ficcionista às vezes precisa saber coisas muito esquisitas. A experiência própria nem sempre ajuda. Passei, por exemplo, a minha infância nos galhos de uma mangueira, chupando manga o dia todo, e não soube responder a um meu amigo, excelente romancista, quanto tempo levava para germinar um caroço de manga.      Contou-me ele, na época, que andou precisando saber este pormenor, em razão de uma história que estava escrevendo. Depois de perguntar a um e outro, e não obtendo senão respostas vagas, telefonou para a repartição do Ministério da Agricultura que lhe pareceu mais apta a fornecer lhe a inform

A Origem das Expressões(2): Casa de Mãe Joana e Sem Eira Nem Beira

                                                                                                                                     Casa de Mãe Joana O marido de Joana I (Sec.XIV) foi assassinado em uma conspiração em que a própria Joana teria participado e ela precisou fugir para Avignon na França porque o cunhado dela, o Luís I , rei da Hungria, ficou irado e invadiu Nápoles.  Lá na cidade francesa Joana reinou e regulamentou os bordéis que ficaram conhecidos como Paço  da Mãe Joana.  No Brasil a palavra Paço ficou sendo "casa". ( A casa de mãe Joana, Reinaldo Pimenta) Sem Eira Nem Beira Eira:  terreno ao ar livre onde fazendeiros colocam grãos para secar.   Beira : é o que parece mesmo. Extremidade da eira. Extremidades. Se o fazendeiro está sem eira nem beira, os grãos são levados pelo vento e ele fica sem nada.  Outra explicação mais conhecida no Nordeste: antigamente as pessoas ricas tinham casas com telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira e os mais pobres constru

Amor de Mãe, Natascha Duarte

       O barulho vem do alto. Mais ou menos na mesma hora e de madrugada. Meu lado da cama. O medo é que caia em cima da minha cabeça. Buf. Tic. Tic. Tic. Rum. Parece respiração. Parece passo de gente. Parece ladrão. Amoooor, o que será que tem em cima da casa? Você precisa tomar uma providência senão vou enfartar de susto e de medo. Uma outra vez foi uma maritaca que fez ninho, colocou seus ovos e os chocou até ficarem livres para voar. Novamente barulho e para meu terror não parece a maritaca. Sobe, marido, sobe, sobe. Ele subiu no telhado. Um par de olhos atentos o enfrentou com atitude incondicional quando a telha foi removida com pressa e sem zelo. Qualquer coisa marido saía correndo de lá. Fosse um bichão eu podia ajudar de baixo gritando por socorro enquanto segurava a escada para ele não cair. Homem também tem medo de bicho. Mas o bicho não teve medo de nós. Didelphis é o nome científico do gambá que encontramos no teto. Fêmea certamente. Ela nos recebeu com bondade, inteira im

Menino do Mato, Poema I, Manoel de Barros

Desenho de Martha Barros   I. Eu queria usar palavras de ave para escrever. Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem nomeação.  Ali a gente brincava de brincar com as palavras tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra! A Mãe que ouvira a brincadeira falou: Já vem você com suas visões! Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis  e nem há pedras de sacristia por aqui. Isso é traquinagem da sua imaginação. O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de Fontes. O Pai achava que a gente queria desver o mundo para encontrar nas palavras novas coisas de ver assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do rio do mesmo modo que uma garça aberta na solidão de uma pedra. Eram novidades que os meninos criavam com suas palavras. Assim Bernardo emendou nova criação: Eu hoje vi um sapo com olhar de árvore. Então era preciso desver o mundo para sair daquele  lugar imensamente e sem lado. A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas pela inocênci

Gregório Duvivier (Antologia Incompleta, Org. Adriana Calcanhoto)

                                                                                    Se o leite desnatado por acaso caísse da sua mão no chão da seção de laticínios bastava para eu enxugar o piso encharcado de batavo e perguntar seu nome e fazer alguma piada envolvendo a expressão chorar pelo leite derramado e nós dois teríamos uma longa-vida eu e você mas você já está no setor de limpeza e eu penso que se espirrasse água sanitária no seu vestido eu poderia dizer sou advogado e isso vale um processo ou se você tivesse dúvidas quanto à validade de um queijo minas eu sei tudo sobre queijo minas ou à madureza de um abacaxi basta puxar uma folha da coroa mas agora é tarde você já está no caixa passando produtos que apitam como um eletrocardiograma. Em: Antologia Incompleta da Poesia Contemporânea Brasileira. Org. Adriana Calcanhoto Cia das Letras, 2017, pág.25

A Origem das Expressões (1): Para Inglês Ver e Ter O Rei Na Barriga

                                                                       Pare Inglês Ver Sobre essa expressão não há uma certeza.  O escritor e jornalista Sérgio Rodrigues acredita que tenha sido originada no tempo do Império, quando o tráfico de escravos já era proibido, mas não respeitado. Como havia pressão da Coroa Inglesa, tudo era feito de maneira a "parecer" que não  se traficava mais. Tudo era feito aparentemente dentro da lei para a  Inglaterra ver. Como muita coisa hoje:  para inglês ( e outras nacionalidades) ver! Ter o Rei na Barriga Refere-se a alguém orgulhoso ou visto como tal, que é danado pra gente julgar o outro pela aparência ou por nosso recalque. Mas, vamos lá:  quando a rainha ficava grávida a notícia era festejada e a futura mãe era tratada com regalias, afinal, podia: trazia um rei dentro da barriga. Passava a ser vista como arrogante aos olhos tanto da plebe quanto dos que a cercavam.                                                             Fonte: Re