Era uma dama de quimono que vivia na superfície pregueada de um leque de papel. não vivia sozinha. Pousada de trás dela, uma garça cravava a longa perna de coral na água de um lago. Enquanto no canto esquerdo, outra garça voava. Sem chuva ou neve que viessem alterar a paisagem, sem frutos que substituíssem as flores do pessegueiro, a dama e suas garças pareciam paradas no tempo. Mas paradas não estavam. O tempo passava no leque, embora a seu modo. Pois cada vez que o seu dono, um velho mandarim, o fechava num estalo seco, fazia-se noite entre as dobraduras. A dama então dormia. Dormiam as garças. E até os nenúfares do lago pareciam repousar suas pétalas sobre a água. Somente o vulcão, ao fundo, continuava soltando um fio de fumaça. Bastava, porém, que o mandarim abrisse outra vez o leque, para que todos despertassem. As pequenas ondas do lago brilhavam como se algum vento lhes chegasse das montanhas. Voava a garça sem sair ...