Zulina passava ao largo, no tumbeiro do cais, mexendo popa africana pra marujo novo. O olho brilhava de mar puro e liso, com pedra pontuda por trás da maré. Rodamunho ca curva do olho, e navio muito navio no fundo. coré foi só um da esquadra. Já restava com limo e coral. Zâmbi ainda era começo de ferrugem e craca. Criada no marejo, a fêmea cresceu com pés na areia e as vergonhas no sal. Dentes de coco branco e maresia na carne. Cabelos de alga e xaxim. Coxas de mastro de veleiro e seio de samburá miúdo. Xodó caçula de Mestre Quiango, proeiro de peito de barcaça. considerado domador de cavalo do mar. Morreu de desgosto de filha, mergulhado em caiana de rolha.
Foi um moço de fora que labiou Zulina. Artimanha de cidade grande na maneira de mirar. A marítima tombou na tempestade do macho. Gripou leseira no pelo enroscado. Zonzou louquice bo ouvido virgem de palavra enfeitiçada. Saíam da boca do sonso, poesia de mentira e cantiga aprendida com Sereia de mangue.
Sumiu o canalha numa gargalhada de saci de três pernas. O sangue de Zulina sintecou o madeirame do porto. Mulher aflorou das suas cavernas ancestrais, e já nasceu querendo frete. Virou da vida. De viração. Vadia. Inaugurando mulher-damice no Portal do Pilar. Frequentada por todos, gemia alto na noite da aldeia. Marinheirada sodomita. Cortesã de Gomorra na pescaria do lugarejo.Em: Pontal do Pilar, Paulo César Pinheiro, Ed. Leya, 2009 págs.6-7
Recomendo o livro Portal do Pilar. Um romance com vários personagens onde o destaque é a vida do local pequeno, afastado, de vida monótona de beira de mar e pescaria. Cada capítulo narra um personagem. Todos eles são importantes e cada um a seu modo imprescindível para a pequena Portal do Pilar. Paulo César Pinheiro, mais conhecido como compositor, mostra uma forma leve, lírica e inteligente de romancear. Vale a pena conferir.
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