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Dejeto, Marcelo Valença


Sempre que falas 
Tuas poucas palavras
Não têm amor

És de um inverso
Ao sério
Amargo e vão

Só te contentas
Com o escárnio
Vil e cruel

Sustento novamente um triste ser
Cansado e entorpecido sem saber
De todas as revoluções que o mundo dá
Quando é que a tua vai passar

Sempre que gritas
Tuas ordens pálidas
Não tens amor

És um repúdio
Um tédio
Um mal-humor

Só te orientas
Por mentiras
E por papel

Sentindo um antigamente florescer
No peito de quem julga sem saber
Tanta revolução no mundo há
Quando é que a tua vai passar?

Sempre que calas
-
Não tens amor

Te mostro o espelho
Te leio
Não tens amor

Te jogo na cara
Teu erro
Não tens amor

Sustento ativamente um livre ser
Perfeita discordância de você
Tantas revoluções o mundo dá
Decerto a tua vai passar

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