Eu te direi de amor em frase nova:
Verbo que em si conduz a singulares
Emanações fatais de escura prova
Que é força de ambições crepusculares
Eu te direi da flor que se renova
Em frondes de segredos seculares
Surgindo da clausura de uma cova
Em mutações tranqüilas e lunares
Direi também de folhas, de aventuras
Levadas velozmente nas alturas
Dos ventos e das asas vencedoras:
Mas de tanto dizer fique o silêncio
Que é cinza de palavras e que vence
O surto de inverdades tentadoras.
II
Por senda escura uma visão me leva...
Em vez dos claros rumos da manhã
Sigo um caminho, um chão feito de treva,
De légua de colina e de rechã.
Em vez do alvor das nuvens que me enleva
Das nuvens de que a tarde é tecelã
Olho o vulto da noite que se eleva
Ouço o vento do mar na telha-vã
Da noite preta que me estende os ubres
De novo sorvo os meus sonhos insalubres
E o leite sugo de imprecisas mágoas.
Do mar que ao fim de tudo há de me ter
Se o meu ferido corpo merecer
O encerro, o encanto e o cântico das águas.
III
Sobre o meu coração dedos de luvas,
Dedos sutis de mãos consoladoras,
Roçaram leves num roçar de chuvas
De vento e de verão sobre lavouras.
Mas se um vinho mortal de eternas uvas
A embriaguez me trouxe, e, aterradoras,
Fulgurações de rútilas saúvas
Meu sangue percorreram, salvadoras,
As tuas mãos lacustres me envolveram,
E de águas matinais frescor me deram...
Mãos e que mãos tão lúbricas e brandas!
As cores das manhãs que me inundaram
Enfim bruma e fantasmas dispersaram
De noites brancas, lívidas, nefandas.
(Poesias Completas 2ªed.1979, Civilização Brasileira)
Nota: este blog coloca pela primeira vez na internet os Três Sonetos Positivos de Joaquim Cardozo.
Nota 1: o blog manteve a grafia original.
Estátua na Ponte Maurício de Nassau. |
Verbo que em si conduz a singulares
Emanações fatais de escura prova
Que é força de ambições crepusculares
Eu te direi da flor que se renova
Em frondes de segredos seculares
Surgindo da clausura de uma cova
Em mutações tranqüilas e lunares
Direi também de folhas, de aventuras
Levadas velozmente nas alturas
Dos ventos e das asas vencedoras:
Mas de tanto dizer fique o silêncio
Que é cinza de palavras e que vence
O surto de inverdades tentadoras.
II
Por senda escura uma visão me leva...
Em vez dos claros rumos da manhã
Sigo um caminho, um chão feito de treva,
De légua de colina e de rechã.
Em vez do alvor das nuvens que me enleva
Das nuvens de que a tarde é tecelã
Olho o vulto da noite que se eleva
Ouço o vento do mar na telha-vã
Da noite preta que me estende os ubres
De novo sorvo os meus sonhos insalubres
E o leite sugo de imprecisas mágoas.
Do mar que ao fim de tudo há de me ter
Se o meu ferido corpo merecer
O encerro, o encanto e o cântico das águas.
III
Sobre o meu coração dedos de luvas,
Dedos sutis de mãos consoladoras,
Roçaram leves num roçar de chuvas
De vento e de verão sobre lavouras.
Mas se um vinho mortal de eternas uvas
A embriaguez me trouxe, e, aterradoras,
Fulgurações de rútilas saúvas
Meu sangue percorreram, salvadoras,
As tuas mãos lacustres me envolveram,
E de águas matinais frescor me deram...
Mãos e que mãos tão lúbricas e brandas!
As cores das manhãs que me inundaram
Enfim bruma e fantasmas dispersaram
De noites brancas, lívidas, nefandas.
(Poesias Completas 2ªed.1979, Civilização Brasileira)
Nota: este blog coloca pela primeira vez na internet os Três Sonetos Positivos de Joaquim Cardozo.
Nota 1: o blog manteve a grafia original.
Comentários
Postar um comentário
comentários ofensivos/ vocabulário de baixo calão/ propagandas não são aprovados.