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O Bordado, A Pantera Negra - Raimundo Carrero e Ariano Suassuna.





O Bordado, A Pantera Negra,   Raimundo Carrero       
  O punhal alumiando. Os olhos faiscando no fundo da moita. A noite - pantera negra - esconde o mato. Simão bugre, cartucheiras cobrindo o dorso, arrasta-se, abrindo caminho, Sente os espinhos enfincando-se no peito. Rasga a pele com a unha fina: o sangue corre. 

     Enfurecido pela dor, esmagam cacto, Parece uma fera acuada. recebe a pancada do vento no rosto como se fosse um coice. 
Agora, a moita está às costas. Não vê as matas se perdendo nos confins, mas tem na mente todos os caminhos e estradas. Perdido entre o silêncio e as trevas está o mundo Santos dos Umãs.
     O punhal alumiado parece espelho. A fera pisa com rigidez, sacode a brutalidade dos seus músculos. O tempo caminha em passos apressados para a madrugada. Antes, o trovão geme atrás das nuvens, depois a chuva despenca, saciando a sede da terra.

 Simão Bugre apalpa a arma. Os cabelos de fios ásperos descem, molhados, pelos ombros. Os pés de animal esmagam as pedras. O primeiro trovão confunde-se com o relinchar de um cavalo e o estrondar do vento. É preciso apressar o passo para chegar logo à serra.

O Romance do Bordado e da Pantera Negra, Ariano Suassuna

Desça, Musa alumiosa
do sertão da minha espera!
Me dê seu fogo de sangue,
sua faísca de fera,
para que eu cante o Romance
do Bordado e da Pantera!

Meu folheto foi versado
por um caso verdadeiro,
contado por gente ilustre
-que é Dom Raimundo Carrero -
passado na sua terra,
Santo Antônio do Salgueiro.


Morava lá em Salgueiro
terra braba do Sertão,
um homem vaquejador
que se chamava Elesbão,
casado com uma mulher
por nome de Conceição

Ali, pelas redondezas
ele era o maior Vaqueiro.
Seu cavalo, ruço forte,
era o maior dos campeiros
respondendo pelo nome
valente de "Visageiro"

Ele vaquejava gado,
ela seus panos bordava.
Ele campeava o Mato,
ela pr'os santos rezava.
Se Elesbão era valente
Conceição alumiava!



Romance do Bordado e da Pantera Negra
Raimundo Carrero aos 23 anos escreveu um conto que mostrou a seu amigo Ariano Suassuna. Este gostou tanto do texto que fez em cordel a mesma narrativa.
Raimundo Carrero perdeu os originais nos anos 70. 
Recentemente encontrados, a Ed. Iluminuras transformou em livro com a excelente ilustração de Marcelo Soares. Recomendo a leitura. 

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