Pular para o conteúdo principal

Poesias da M.P.B: Amigo É Casa, Hermínio Bello de Carvalho e Capiba


Amigo é feito casa que se faz aos poucos
E com paciência pra durar pra sempre
Mas é preciso ter muito tijolo e terra
Preparar reboco, construir tramelas
Usar a sapiência do João-de-barro
Que constrói com arte a sua residência
Há que o alicerce seja muito resistente
Que às chuvas e aos ventos possa então a proteger

E há que fincar muito jequitibá
E vigas de jatobá
E adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás
Não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar
Que os cabelos brancos vão surgindo
Que nem mato na roceira
Que mal dá pra capinar
E há que ver os pés de manacá
Cheínhos de sabiás
Sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis
Choro de imaginar!
Pra festa da cumieira não faltem os violões!
Muito milho ardendo na fogueira
E quentão farto em gengibre
Aquecendo os corações

A casa é amizade construída aos poucos
E que a gente quer com beira e tribeira
Com gelosia feita de matéria rara
E altas platibandas, com portão bem largo
Que é pra se entrar sorrindo nas horas incertas
Sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
Faz-se quase transparente sem deixar-se perceber

Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar
Se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
E oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
Oferece pra gente o melhor que tem e que nem tem
Quando não tem, finge que tem
Faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão

A casa é amizade construída aos poucos
E que a gente quer com beira e tribeira
Com gelosia feita de matéria rara
E altas platibandas, com portão bem largo
Que é pra se entrar sorrindo nas horas incertas
Sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
Faz-se quase transparente sem deixar-se perceber

Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar
Se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
E oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
Oferece pra gente o melhor que tem e que nem tem
Quando não tem, finge que tem
Faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão
Quando não tem, finge que tem
Faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão

Álbum: Isso é que é viver, Hermínio 80 anos
Imagem: Pixabay.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Os Dentes do Jacaré, Sérgio Capparelli. (poema infantil)

De manhã até a noite, jacaré escova os dentes, escova com muito zelo os do meio e os da frente. – E os dentes de trás, jacaré? De manhã escova os da frente e de tarde os dentes do meio, quando vai escovar os de trás, quase morre de receio. – E os dentes de trás, jacaré? Desejava visitar seu compadre crocodilo mas morria de preguiça: Que bocejos! Que cochilos! – Jacaré, e os dentes de trás? Foi a pergunta que ouviu num sonho que então sonhou, caiu da cama assustado e escovou, escovou, escovou. Sérgio Capparelli  CAPPARELLI, S. Boi da Cara Preta. LP&M, 1983. Leia também: Velho Poema Infantil , de Máximo de Moura Santos.