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Dois Poemas de Alejandra Pizarnik

Sonho

Rebentará a ilha da lembrança
A vida será um ato de candura
Prisão
Para os dias sem retorno
Manhã
Os monstros do bosque destruirão a praia
sobre o vidro do mistério
Manhã
A carta desconhecida encontrará as mãos da alma


Festa

Eu desdobrei minha orfandade
sobre a mesa, como um mapa.
Desenhei o itinerário
para meu lugar ao vento.
Os que chegam não me encontram.
Os que espero não existem.
E bebi licores furiosos
para transmutar os rostos
em um anjo, em copos vazios.


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