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Dona Olímpia, Ronaldo Bastos e Toninho Horta (Intérprete: Milton Nascimento)


Vai e não esquece de chorar
Vê se não esquece de mentir
Dizer até manhã
E não regressar mais
Vê se não esquece de sumir

É ficou assim, caiu no ar
É passou assim, não quer passar
Não pára de doer
E não vai parar mais
Nem de vez em quando vai sarar
Me xinga me deixa me cega
Mas vê se não esquece de voltar

Tentar compreender
Quase não falar mais
E nem ser preciso perdoar
Me xinga me deixa me cega
Mas vê

Ouça aqui, na voz de Milton Nascimento

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Olympia Angélica de Almeida Cotta, nasceu em um distrito de Mariana, Minas Gerais, em 1889
. Filha de pais abastados, teve uma vida confortável, em uma época em que poucos tinham a chance de ter o básico para sua sobrevivência.

Na juventude, a bela Olympia se apaixonou perdidamente por um estudante do curso de Farmácia, em Ouro Preto.  A família de Olympia, preocupada em preservar o patrimônio e a reputação da filha, proibiu o romance porque o jovem estudante não pertencia à mesma classe social.

O jovem estudante, cuja identidade permanece desconhecida até hoje, faleceu pouco tempo depois. Causa da morte? Coração partido. Neste mesmo instante, morria Olympia Cotta e nascia, a famosa Sinhá Olímpia.

Olímpia passou o resto de sua vida vagando pelas ladeiras ouro-pretanas, trajando roupas coloridas e um chapéu que ora era ornado por penachos, ora por flores. Começou a viver em seu mundo particular, onde não havia dor, tristeza, amores não correspondidos, ou mesmo aparências sociais a serem sustentadas a qualquer custo. 

Sinhá Olímpia, como passou a ser conhecida, declamava poemas pelas ladeiras da Ouro Preto, em troca de dinheiro, e eventualmente uma pinguinha. Era uma figura conhecida e icônica na região. Ela era uma releitura das damas de outros tempos, com a autenticidade e rebeldia que as outras, certamente não tinham. Era a personificação do Barroco: exagerada, rebuscada, profunda e apaixonada. Tinha em sua imaginação, amigos importantes como os inconfidentes e os poetas mineiros, além de personagens da monarquia portuguesa.

Sinhá Olímpia era muitas pessoas. E quem era ela realmente? Nunca saberemos.

Rita Lee, a mais notável das representantes femininas do rock brasileiro, classificou Sinhá Olímpia como sendo a primeira hippie do Brasil. Sinhá foi também homenageada na década de 90, no carnaval carioca, pela escola de samba Mangueira.

Fonte: Cidade e Cultura

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