Prólogo
Na cadeia tudo muda. Na cadeia onde estava Marcelo Odebrecht, mais ainda. Cada um de seus companheiros da ala no Complexo Médico-Penal do Paraná, ou CMP, integrava um capítulo da história do dinheiro sujo que irrigou os governos recentes do Brasil. Eram ex-ministros, lobistas, empreiteiros, ex-deputados. Atrás das grades, adquiriam nova feição. Inimigos tornavam-se parceiros, subalternos convertiam-se em líderes, homens fortes desabavam diante de problemas comezinhos. Ali, mais do que cargo ou do que o tamanho da conta bancária, o que valia era saber como conseguir a troca de uma lâmpada, conquistar a boa vontade do carcereiro ou convencer os outros a ajudar na limpeza da cela. Para sobreviver era preciso mudar. - e talvez até entregar antigos companheiros à justiça.
Só Marcelo, o mais célebre e poderoso deles, continuava o mesmo. O mor empreiteiro do Brasil, workaholic assumido, mantinha lá dentro os hábitos cultivados do lado de fora. Acordava de madrugada para ginástica. Falava pouco. Lia processos. Preocupava-se com o que acontecia na empresa. E, acima de tudo, dava ordens. Dizia o que os colegas de cela deviam ou não comer. Determinava o que os advogados tinham de fazer, de que forma esperava que tocassem seus processos. E, como não renunciava ao cargo, ainda era formalmente o presidente da Odebrecht - para onde enviava determinações em bilhetes escritos à mão.
Gaspar, Malu
A Organização: a Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo
1 ed. São Paulo, Cia. das Letras, 2020
Págs.25-25 (Prólogo)
Malu é maravilhosa, sou fã :)
ResponderExcluirEstou encantada com o trabalho desta jornalista.
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