Lá vêm as maritacas outra vezfazer minha janela de palanque.
Aproveitam a manhã ensolarada
empoleiram-se no estreito parapeito
e começam a algazarra habitual.
Cinco mocinhas turbulentas, faladeiras
começam por medir o janelão
desfilando como numa passarela
fila indiana, requebrando em cortejo.
Vão e voltam, voltam e vão bem circunspectas
cobrindo a extensão do peitoril
e desengonçadas, escorregam no granito.
Ao final do ritual extravagante
postam-se juntas, bem-dispostas e falantes,
na beirada da janela de onde as vejo.
Uma conversa, outra responde; uma resmunga, outra palpita.
Se alguém uma interrompe, outra replica impulsiva.
O que contam umas pras outras animadas?
É debate, mesa-redonda ou controvérsia?
Sem aviso, inicia-se um conflito.
Como se xingam umas às outras é mistério.
Se se entendem, ninguém sabe ou saberá.
Papagueiam incansáveis depois passam pros murmúrios
dos cochichos vão às queixas e gemidos
para no fim parecerem apaziguadas
indo pra casa, no edifício que habitam
cada qual num vão de telha do beiral
até voltarem amanhã, à mesma hora,
recomeçando a cerimônia matinal.
Do livro: À Meia Voz, Ladyce West
Leia mais da autora: Sexta Poética: Querem Me Vender Um Sítio Em Piraí
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