À hora da morte, quando os grandes homens se lembram da frase que os eterniza, D. Luciano de Mello y Goya murmurou: — Bem‑aventurado aquele que prefere morrer com o coração varado de chumbo do que de saudade. O criado, que o acompanhava, atribuiu‑a à febre, cuja inclemência havia semana e meia o consumia, mas o velho governador nunca estivera tão lúcido, desde a hora em que subira a bordo do paquete real, como naquela manhã de Novembro 7, a meio do Atlântico, a caminho da Europa. Nos ouvidos ecoavam‑lhe ainda as palavras do capitão Rodolfo Cóias, líder da milícia destacada para tomar a capital da ilha de São Cristóvão, depois de o informar do fim do Império em terras de São Miguel do Pacífico: — Porto Negro é uma mulata da beira do cais, D. Luciano! Não nasceu para usar espartilhos, mas para andar nua por baixo da cambraia. Por entre a névoa da última hora, a imagem era clara aos olhos de D. Luciano. Não bem uma mulata, como dissera o guerrilheiro, mas uma ne