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Mostrando postagens de outubro, 2020

O Que Estou Lendo? O Pecado de Porto Negro, Norberto Morais.

  À hora da morte, quando os grandes homens se lembram da frase que os eterniza, D. Luciano de Mello y Goya murmurou:       — Bem‑aventurado aquele que prefere morrer com o coração varado de chumbo do que de saudade.       O criado, que o acompanhava, atribuiu‑a à febre, cuja inclemência havia semana e meia o consumia, mas o velho governador nunca estivera tão lúcido, desde a hora em que subira a bordo do paquete real, como naquela manhã de Novembro 7, a meio do Atlântico, a caminho da Europa. Nos ouvidos ecoavam‑lhe ainda as palavras do capitão Rodolfo Cóias, líder da milícia destacada para tomar a capital da ilha de São Cristóvão, depois de o informar do fim do Império em terras de São Miguel do Pacífico:       — Porto Negro é uma mulata da beira do cais, D. Luciano! Não nasceu para usar espartilhos, mas para andar nua por baixo da cambraia.       Por entre a névoa da última hora, a imagem era clara aos olhos de D. Luciano. Não bem uma mulata, como dissera o guerrilheiro, mas uma ne

Proparoxítonas, Eduardo Affonso

       Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto. As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico. Estão para as outras palavras assim como os mamíferos para os artrópodes. As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às célebres. Se o idioma fosse um espetáculo, permaneceriam longe do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando o máximo. Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto - e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica! Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito. É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo. O inclinado e o íngreme. O irregular e o áspero. O grosso e o ríspido. O brejo e o pântano. O quieto e o tímido. Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice. Uma coisa é estar no topo – outra, no ápice. Uma coisa é ser fedido – outra é ser fétido. É fácil ser valente, mas é árduo ser intrépido. Ser artesão não é nada, perto de ser art

Continuamos Idiotas Sentados em Barris.

Há quatro anos,  impressionada com nossa capacidade de ficarmos apontando defeito nos outros, criticando o buraco no casco de barco do outro quando o nosso também está furado e vamos todos afundar, postei    Ruth Rocha Para Adultos .  Hoje continuo vendo que apesar de estarmos todos nós vitimados pelas mesmas coisas, perdemos tempo em criticar o outro, o colega de infortúnios, enquanto somos levados juntos ao mesmo caos social. Continuamos idiotas sentados em barris. Trouxe, por isso, a história completa. Só ela, sem análise alguma. Dois idiotas sentados:  O Teimosinho e o Mandão;  Muito bem acomodados,  Com suas velas na mão.  Cada qual no seu barril  De pólvora recheado, Começam, num tom gentil, Cada qual mais educado...      - Ó seu Teimosinho, não é por nada não, mas será que Vossa Senhoria poderia apagar essa sua velinha?      - Muito bem, Excelência, muito bem... Mas poderia Vossa Excelência me dizer por que estaria a minha velinha incomodando Vossa Excelência?      - Pois não vê

Conclusão, Luís Fernando Veríssimo

  Um estranho encontro: você e o seu próprio sangue. Não seu sangue pingando de um corte no dedo ou seu sangue dentro de uma seringa. Seu sangue espalhando-se no chão na frente do seu nariz. ⠀⠀⠀⠀⠀Vermelho escuro é de artéria e claro é de veia. Ou será o contrário? O corte foi no peito mas não deve ter atingido o coração. Você ainda respira. Você ainda está lúcido. Sente o cheiro doce do sangue que avança lentamente e já está a poucos centímetros do seu nariz. A mancha de sangue já está maior do que a sua cara no parquê. ⠀⠀⠀⠀⠀Onde está o homem que apunhalou você? Não está na sala, deve ter entrado no quarto. O que é que ele quer? Uma calcinha. Falou alguma coisa de uma calcinha. Você abriu a porta e ele entrou. Você não teve tempo de dizer nada. Ele perguntou onde estava a calcinha e golpeou você no peito com a faca antes que você pudesse falar. Você não sentiu nada. Quando viu estava no chão, com a cara no chão. Continua não sentindo nada. Só fascinação pelo sangue em movimento diante

Cristiano Ramos, Uma Grata Surpresa

      Jornalista de Pernambuco que eu só conheço das redes sociais, Cristiano Ramos de vez em quando coloca alguma poesia na sua pagina Facebook.  Pedi autorização e trouxe o soneto com que inicio a série: Uma Grata Surpresa. A felicidade - nas etiquetas, e nas telas, prêmios, pronomes, frascos - pergunta-nos por qual razão escrever sobre coisas ultrapassadas, feias. Por que essa busca noturna entre cactos se existe tantas maneiras de ser feliz e heroico no reino dos plásticos, de receber amor das redes, feiras? Que leva alguém a destino submerso quando todos os lugares e falas (para além das extremas diferenças) aprenderam a imprimir novos astros? Mas não há tempo para ouvir as respostas nem vontade. Foi só a live das terças. Em Antologia dos poetas submersos

Cultura Inútil: 16 de outubro Dia Mundial do Pão

     Alimento simples, é feito com farinha de trigo, água, sal e fermento biológico (e, talvez, um toque de açúcar), o pão francês é querido de todos. Tanto que ano passado com os nomes de P ão de trigo  (SC);  cacetinho (RS);   pão francês , ou pãozinho(SP, capital e PE) ; média (Baixada Santista) ; filão .( Piracicaba e Ribeirão Preto);  pão de sal (MG );  jacó( SE) ; carioquinha (CE) ;  careca (PA); massa grossa (PI e AM) . Ufa! Nós brasileiros consumimos 704,7 toneladas de pão por mês.                Para celebrar a data o blog trouxe 13 curiosidades o alimento. Confira:          1)   Onde surgiu o pão? quase consenso entre os historiadores:  na Mesopotâmia. (atual Iraque).         2)  Os processos de fermentação do pão já eram registrados desde 2 mil anos antes de Cristo.         3) Sempre foi alimento? Sim e foi salário também: n o antigo Egito, um dia de trabalho correspondia a três pães e dois vasos grandes de cerveja.         4)  É bem provável que as primeiras padaria

A de Adoh, B de Bork Ah - Dia dos Professores, historinha 4/6

Minha forma de abraçar esses profissionais de quem somos eternamente devedores, é mostrar o que realmente é poder. O que é fazer a diferença o que é ser revolucionário.   É para os professores que um país deve se voltar e é por causa dos professores que um país consegue se desenvolver.      Há 17 anos, Elisângela Dell-Armelina Suruí chegou a uma aldeia em Cacoal, Rondônia, como voluntária para dar aulas em uma das 10 escolas nas terras indígenas do Povo Paiter.      Naturalizada do Espírito Santo, o Suruí em seu sobrenome veio com o casamento. Ela resolveu ficar no lugar onde conheceu seu esposo, teve três filhos e encontrou seu propósito na educação.      Embora nunca antes tivesse morado longe da cidade, Elisângela passou a fazer parte daquela comunidade, cuidando de seus jovens. Ano passado, ela encarou uma barreira na alfabetização de seus alunos: a língua.      O idioma materno do povo é o Paiter Suruí que, assim como outras linguagens indígenas, tem como característica a forte or

Dia dos Professores, historinha 3/6

    Hoje é o dia dos professores. Se eu acertasse fazer selfie, buscava uma maçã ( que há muito tempo distanciou-se de Eva e aproximou-se da professora), fazia uma e dedicava à essa classe. Inábil, abraço os profissionais, a quem todos nós somos devedores eternos, relacionando minhas irmãs Nalize, Leda e Iracema, minha sobrinha Sandra, meu primo Júlio Valença, Dona Elita que me ensinou a ler, Oswaldo Ferreira, Ladjane Duarte e Enéas ... carinho imenso por vocês.  Gênero, sexualidade e ... Geografia?      Paqueras e namoros fazem parte do amadurecimento, no entanto, a sexualidade pode se manifestar na escola de diversas maneiras, nem sempre positivas. A professora de geografia Gislaine Carla Waltrik se deparou com um desafio ao tentar ajudar um aluno que sofria bullying dos colegas. Ele estava sendo chamado de gay. De início, ela soube exatamente o que fazer: parou a briga, deu bronca nos meninos e exigiu uma explicação. Após o procedimento padrão, porém, Carla não tinha mais certeza do

Dia dos Professores 2020, historinha 2/6

      Hoje é o dia dos professores. Se eu acertasse fazer selfie, buscava uma maçã ( que há muito tempo distanciou-se de Eva e aproximou-se da professora), fazia uma e dedicava à essa classe. Inábil, abraço os profissionais, a quem todos nós somos devedores eternos, relacionando minhas irmãs Nalize, Leda e Iracema, minha sobrinha Sandra, meu primo Júlio Valença, Dona Elita que me ensinou a ler, Oswaldo Ferreira, Ladjane Duarte e Enéas ... carinho imenso por vocês.  Regime fechado, visão aberta      “Quando eu saio da minha casa, já penso que tenho duas maneiras de encarar meu dia: ficar reclamando, ou fazer uma aula boa”, diz Di Gianni de Oliveira Nunes. Para o professor de história, a motivação é a chave de tudo. E é isso que quer ver em seus alunos, não importa quem eles sejam.      Há 12 anos, ele tem encontrado formas de trazer a melhor experiência para seus alunos com o conteúdo. “Uma vez, ia dar uma aula sobre a invasão nazista em Guernica, mas o quadro negro estava rachado. Leve

Dia Dos Professores - 2020 - historinha 1/6

             Hoje é o dia dos professores. Se eu acertasse fazer selfie, buscava uma maçã ( que há muito tempo distanciou-se de Eva e aproximou-se da professora), fazia uma e dedicava à essa classe. Inábil, abraço os profissionais, a quem todos nós somos devedores eternos, relacionando minhas irmãs Nalize, Leda e Iracema, minha sobrinha Sandra, meu primo Júlio Valença, Dona Elita que me ensinou a ler, Oswaldo Ferreira, Ladjane Duarte e Enéas ... carinho imenso por vocês.       Ao longo dos dias de hoje e amanhã, vou colocando aqui boas e inspiradoras histórias. Coloco não para que os professores vejam, mas para que todos os demais entendam que sem eles, não adianta prometer mundos e fundos. Sem, educação... nada acontece.      São Paulo – Em sua sala, o diretor da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Infante Dom Henrique, Claudio Marques da Silva, mostra a lista dos livros mais vendidos em sebos pelo Brasil. Em primeiro lugar, está “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Je

Quem Matou Irmã Geórgia, Fernando Sabino

  Sábado eu vou ao teatro - decidi ferozmente, ao saltar do ônibus em frente a uma agência teatral de Londres. Há meses que prometo à minha mulher levá-la ao teatro - só me lembro de comprar ingresso quando a peça a que ela gostaria de assistir já saiu de cartaz.      Entrei impávido agência adentro:      - Dois para sábado: The Killing so Sister George.      Saí com dois ingressos no bolso. Sentia-me um herói: sábado nós iríamos ao teatro para saber que matou a irmã Geórgia.      No sábado avisei  minha mulher, displicente:      - Hoje nós vamos ao teatro.      Não quis acreditar: achou que era "uma das minhas". Tive de exibir os ingressos. Teatro de Londres, começa às sete e meia - o que, de si, não é uma coisa séria. Eram seis horas quando regressamos de uma visita. Havia tempo de sobra.       Fomos recebidos pela empregada, o marido da empregada, a filha da empregada, a irmã da empregada, por ela convocados, verdadeiro comício de portugueses, entoando lamentações, como to