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As Duas Árvores, Olegário Mariano

Vendo esta árvore velha ao pé da adolescente,
Penso em nós dois. A luz e a treva, lado a lado.
As cigarras em ti cantam festivamente,
Nos meus braços o vento é um choro desolado.

Perto de ti, vivo de ti separado
Que a luz comum que cai sobre nós, de repente,
Em mim nada mais é que um reflexo prateado
Enquanto em ti abre clarões de sol nascente.

Não tenho nada mais para dar-te. Meus braços
Sem folhas,sem calor, torcidos nos espaços,
Cavam sombras de dor no barro da barranca.

E na luz estival que entre as duas se espelha,
A árvore nova olha com pena a árvore velha
Como gostas de olhar a minha cabeça branca.


(Do livro: Mundo encantado 1955) ortografia atualizada.

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