O romance Floradas na Serra, lançado em 1939, tem como pano de fundo a tuberculose e seu tratamento, numa época em que a doença ameaçava a saúde pública e mobilizava a sociedade brasileira em função dos altos índices de mortalidade. O livro representou o primeiro grande sucesso da escritora paulista Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982) e originou versões para o cinema e para a televisão.
A edição inaugural de Floradas na Serra esgotou-se em pouco mais de um mês.
A escritora, que nutria desde a infância forte obsessão pelo óbito por tuberculose, acreditava que seria herdeira do destino de sua avó e bisavó, vítimas da doença. Dinah percorreu seguidos sanatórios, pensões e consultórios médicos localizados na Serra da Mantiqueira para traçar o perfil dos tuberculosos. Como resultado, floresceu a personagem Elza que, no final da adolescência, partiu da cidade de São Paulo em direção às montanhas, levando para Campos do Jordão os pulmões avariados e a esperança de cura. Ao longo da obra, outro personagem destaca-se: Lucilia, considerada como alter-ego da escritora.
A dimensão cínica e quase sobre-humana emprestada a Lucilia encontrou limites quando ela conheceu e se apaixonou por um "homem irreal", que a própria infectada incumbiu-se de batizar com o nome de Bruno. Essa opção sentimental condena a personagem à decadência física e moral, e o repentino desaparecimento de Bruno acarreta o agravamento do estado de saúde de Lucilia.
A edição inaugural de Floradas na Serra esgotou-se em pouco mais de um mês.
(Fiocruz)
Eu não conhecia nada da autora e comecei por Floradas na Serra. Confesso não ter gostado do livro que me pareceu um romance água com açúcar. Sei, no entanto, da grande importância que teve naquela época de ignorância. Dinah descreve como funcionava o tratamento para tuberculose que infectava um alto percentual da população brasileira. Sem a existência de vacina ( BCG, atualmente aplicada em crianças) e sem penicilina, que só chegou no país depois da II Guerra Mundial, os pacientes buscavam a melhora ou cura em cidades serranas tranquilas e de climas puros e agradáveis. Petrópolis (A Imaginária, Adalgisa Nery) no Rio de Janeiro e Campos do Jordão em São Paulo foram exemplos. Campos do Jordão recebeu doentes do estado, de estados vizinhos e do exterior. Lá foram construidos sanatórios para este fim, mas os doentes também ficavam em pensões e residências. A população, sem saber do alto e fácil contágio, cedia morada em suas casas para aumentar a renda da família. Dinah coloca na boca do médico, que atendia a todos a qualquer hora, faz crítica pertinente sobre isso. Apesar do assunto, é um livro leve. Creio que não está na categoria "histórico", mas traz aspectos da história do país sob a prisma da história da medicina e história do turismo. Campos do Jordão foi descoberta por causa da doença.
Vacina: BCG - dose única aplicada em bebês. Entrou no calendário de vacinação em 1974.
Floradas Na Serra, Dinah Silveira de Queiroz
Primeira edição 1939 - 162 páginas
Floradas na Serra - filme
Ano: 1954
Direção: Luciano Salce
Roteiro:Fábio Carpi
Elza: Ilka Soares
Lucília: cacilda Beker
Regina, as gerações pós-guerra cresceram imaginando que tuberculose era uma doença do passado. Mas nos dias de hoje, aqui no RJ tuberculose é muito comum. Muito comum nas favelas. Essas comunidades, construídas sem qualquer organização urbana, têm casas muito próximas, becos, lugares em que o ar não passa. São às vezes muito úmidos durante o inverno. Fica assim terreno bem fértil para que a TB se espalhe.
ResponderExcluirQuanto ao romance ser água com açúcar, era o gosto da época. Você sabe. O mundo mudou muito. Recentemente uma amiga minha me disse que não gostou de um livro porque ainda marchava ao som do amor proibido e ingênuo de uma padre por uma jovem doente. Temos que dar espaço. Você sabe disso. Dinah entrou para a ABL! E na minha época era conhecida pelo romance A Muralha. Mas bem mais recentemente soube que é considerada a introdutora da ficção científica no país, com o romance Margairda La Roque, Nunca li, nenhum dos dois. Mas me lembro de ter visto suas crônicas, mas não me lembro se gostava ou não. Fui na Wikipedia e descobri que ela regulava mais ou menos com meu pai, mas morreu muito depois dele, mais de 20 anos. Foi bom ler suas impressões. Obrigada pelas informações.
Ví alguém da Fiocruz sugerir que a baixa procura pela vacina da Polio, deve-se ao fato de que como não se vê mais facilmente alguma vítima da doença na rua, ela não parece existir. Fica difícil entender que não se vê justamente pela vacina, aplicada brilhantemente por anos a fio no país inteiro. Tuberculose tem vacina e cura. Já não há mais o medo. Profilaxia nunca foi coisa seria no Brasil, com relação a nada. Não que eu saiba. Resulta mal pra lugares como a cidade do rio de Janeiro. Sobre o livro: concordo que ficou água com açucar porque lí muitas décadas depois de escrito. Não li A Muralha. Abraço.
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