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Fusca Graciliênico do Sr. Mariano Alves ( Graciliano Ramos em Maceió)


     Em Maceió, um fusca grafite decorado externamente com fotos e frases do escritor alagoano Graciliano Ramos carrega inúmeros livros pela cidade. O pedagogo Mariano Alves de Oliveira, de 59 anos, conduz a biblioteca itinerante e visita as escolas públicas dos bairros. No pátio, ele expõe seu acervo literário e os alunos se aproximam para conhecer, acessar os livros e ouvir sobre literatura.

“Graciliano Ramos descreveu como ninguém a realidade de quem vive no sertão nordestino, como um espelho retrovisor onde podemos aprender sobre nossas origens”, relata o pedagogo aos alunos.

O “fusca graciliânico” também visita os locais de grande movimento e desperta a atenção das pessoas por onde passa. Junto com os livros, ele monta o pequeno cenário no teto do carro com panela de barro, chapéu de couro, colher de pau e uma escultura de metal que representa Baleia, a cachorrinha personagem de Vidas Secas, e fica à disposição para conversar sobre literatura e, em especial, sobre o seu autor preferido. Ainda não pode doar livros por não ter um número de exemplares suficientes, mas oferece conhecimento e tempo a quem se interessar.

“Muitos desconhecem a importância de Mestre Graça para a literatura. O livro carrega em si o estigma de que só é acessível para intelectuais ou endinheirados. Tento fazer o caminho inverso, incluir os estudantes em uma atmosfera de possibilidades”, explicou Mariano, que começou a utilizar o Fusca temático em 2017.


O interesse pela literatura surgiu mais tarde, quando ingressou na pedagogia aos 50 anos e, a partir do contato com os livros, passou a colecionar as obras do autor. Este ano, quer concluir a pós-graduação e já pensa no
mestrado. A iniciativa de Mariano tornou-se conhecida pelo poder público e, este mês, a Câmara de Maceió concedeu a ele a Comenda Escritor Graciliano Ramos. Quando perguntado sobre a homenagem recebida, ele usa a citação do clássico Memórias do Cárcere para expressar o sentimento: “Comovo-me em excesso, por natureza e por ofício. Acho medonho alguém viver sem paixões.”





Matéria de Jornal Nota

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