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Mostrando postagens de maio, 2023

Coco do Pé de Manga, Jessier Quirino

As mangueiras tão de luto E as mangas de sentimento Derrubaram um pé de manga Pra fazer um apartamento. Um pé de manga Um pé de cupuaçu Um pé de jaca, um pé de coco E lindo pé de caju. Como é que pode Tamanho descabimento Derrubar um pé de manga Pra fazer um apartamento.   Um pé de manga Um pé de jaca e um pé de pinha De pitomba e graviola Daquela bem papudinha. Como é que pode Um cabra sem atributo Derrubar um pé de jaca Pra fazer um viaduto. As jacas de sentimento E as jaqueiras tão de luto Derrubaram um pé de jaca Pra fazer um viaduto. Um pé de jaca Um pezinho de romã Jambeiro, tamarinheiro Banana prata e maçã. Como é que pode Um cabra sem-vergonhento Derrubar um pé de jambo Pra fazer um apartamento.  Os jambeiros tão de luto E os jambos de sentimento Derrubaram um pé de jambo Pra fazer um apartamento. Um pé de jambo Um lindo pé de canela Sapoti, coisa mais bela E um pé de maracujá. É de lascar... Um pé de lima carregado Abacateiro florado Q'eu não posso nem lembrar. Letra do “C

Devagarinho, Maria Alberta Menéres

Muito devagarinho, o menino  acordou a meio da noite, com sede.- Mãe! - chamou baixinho, tão baixinho que já sabia que no quarto ao lado ela não conseguia ouvi-lo. Não faz mal - pensou ele - daqui à cozinha é meia dúzia de passos e eu já sou crescido para ir sozinho buscar um copo de água. Fez menção de se levantar, mas deixou-se ficar deitado no escuro. O escuro é engraçado - descobriu o menino - mas o pior é que nao vejo as coisas muito bem! A minha cama parece um hipopótamo deitado e as grades lá do fundo, a boca dele, aberta... O menino encolheu-se mais: agora já era o candeeiro que lhe parecia uma girafa, a olhá-lo lá do alto. Uma girafa no seu quarto? Quem a teria levado para lá?! O pior era a sede, cada vez maior. - Mãe! - tornou a chamar, agora mais baixinho ainda, com medo de acordar o hipopótamo e a girafa... Não faz mal - pensou ele - daqui à cozinha é meia dúzia de passos e, se eu for depressa, o hipopótamo e a girafa não me apanham! Fez menção de se levantar, mas deixou-se

A Morte dos Girassóis, Caio Fernando de Abreu

     Anoitecia, eu estava no jardim. Passou um vizinho e ficou me olhando, pálido demais até para o anoitecer. Tanto que cheguei a me virar para trás, quem sabe alguma coisa além de mim no jardim. Mas havia apenas os brincos-de-princesa, a enredadeira subindo tenta pelos cordões, rosas cor-de-rosa, gladíolos desgrenhados. Eu disse oi, ele ficou mais pálido. Perguntei que-que foi, e ele enfim suspirou:  “Me disseram no Bonfim que você morreu na Quinta-feira.” Eu disse ou pensei em dizer ou de tal forma deveria ter dito que foi como se dissesse: “É verdade, morri sim. Isso que você está vendo é uma aparição, voltei porque não consigo me libertar do jardim, vou ficar aqui vagando feito Egum até desabrochar aquela rosa amarela plantada no dia de Oxum. Quando passar por lá no Bonfim diz que sim, que morri mesmo, e já faz tempo, lá por agosto do ano passado. Aproveita e avisa o pessoal que é ótimo aqui do outro lado: enfim um lugar sem baixo-astral.” Acho que ele foi embora, ainda mais pálid

Ela Era Poesia, Mena Geraldes

Ela guardava as palavras debaixo da almofada. Na segunda gaveta da cómoda de cerejeira. Não as deixava fugir das páginas dos livros. Saboreava- as ao pequeno almoço com o pão com manteiga. Roubava-as às pessoas que passavam por ela e não sentia remorsos. Escondia-as no frigorífico para que se mantivessem frescas. Como alfaces. Semeava-as em vasos de barro e esperava, pacientemente, que florescessem. Colhia-as quando deambulava pela cidade grande. Nas catedrais. Nos becos dos bairros de ruelas estreitas. Nas frestas das fachadas dos prédios pombalinos. Até nos elevadores que a levavam aos miradouros para descansar o olhar. Nos museus e nos monumentos de pedra bordados. Dela saíam palavras pelo decote. Dos sacos das compras. Do cabelo pintado da cor das papoilas. Das gargalhadas. Ele apareceu na vida dela e foi amor à terceira vista. Ele prometeu-lhe um mundo. O seu. Fez-lhe uma serenata. Mas ela só lhe disse, tristemente, aquele amor era impossível. Ela era poesia. Ele não sabia ler. (F

Boca de Forno, Rubem Alves

     Boca e forno!    Forno!       Furtaram um bolo!       Bolo       Farão tudo o que seu mestre mandar?        Faremos todos, faremos todos, faremos todos       A gente brincava assim, quando era criança. O mestre cantava o refrão e os outros respondiam, repetindo a última palavra, como se fosse eco. Sempre perguntei sobre o sentido destas palavras e, por mais que me esforçasse, nunca encontrei sentido algum. É puro non sense e imagino que este brinquedo bem que poderia figurar entre os absurdos por que Lewis Carroll fez a pobre Alice passar nas suas aventuras pelo País das Maravilhas e No País dos Espelhos. Mas todo absurdo é apenas o avesso de uma coisa que parece lógica e racional, como o lado de trás de uma tapeçaria, escondido contra a parede. O absurdo é o avesso do mundo. Ai fiquei a me perguntar: “Este absurdo é o avesso de quê”? Veio-me, então, uma iluminação repentina: não deve ter sido por acidente que o inventor desta brincadeira, quem quer que tenha sido, deu o nome de m

Poemas da M.P.B: Timoneiro, Hermínio Bello de Carvalho e Paulinho da Viola

E quanto mais remo mais rezo Pra nunca mais se acabar Essa viagem que faz O mar em torno do mar Meu velho um dia falou Com seu jeito de avisar: Olha, o mar não tem cabelos Que a gente possa agarrar. Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar Timoneiro nunca fui Que eu não sou de velejar O leme da minha vida Deus é quem faz governar E quando alguém me pergunta Como se faz pra nadar Explico que eu não navego Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar É ele quem me carrega Como nem fosse levar É ele quem me carrega Como nem fosse levar A rede do meu destino Parece a de um pescador Quando retorna vazia Vem carregada de dor Vivo num redemoinho Deus bem sabe o que ele faz A onda que me carrega Ela mesma é quem me traz Não sou eu quem me navega Quem me navega é o mar Não sou eu

O Que Estou Lendo? Talvez Você Deva Conversar Com Alguém, Lori Gottlieb

De modo geral, buscamos a ajuda de um terapeuta para melhor compreender as angústias, os medos, a culpa ou quaisquer outros sentimentos que nos causam desconforto e sofrimento.  Mas quantos de nós já paramos para perguntar: o terapeuta está imune à gama de questões que ele auxilia seus pacientes a dirimir e superar, dia após dia? A autora  best-seller  e terapeuta Lori Gottlieb nos mostra que a resposta a essa pergunta traz revelações surpreendentes. Quando ela se vê emocionalmente incapaz de gerenciar uma situação que perturba sua vida, uma amiga lhe faz uma sugestão:  talvez você deva conversar com alguém.  Combinando histórias reunidas a partir de sua rica trajetória como terapeuta (distribuídas entre quatro personagens inesquecíveis) à sua própria experiência como paciente, Lori nos oferece um relato afetuoso, leve e comovente sobre a universalidade de nossas perguntas e ansiedades… I Idiotas Anotação no protuário, John O paciente relata estar se sentindo "estressado", co

Bibliofuscoteca: fusca biblioteca em Goiás

Em Goiás, um fusquinha  adaptado faz o papel de biblioteca e sai levando livros e leituras às populações carentes.   A Bibliofuscoteca é um projeto de Thais Monteiro Poeta e seu parceiro Ivan Willian e faz parte de outro projeto: Cia de Artes Poesia que Gira (2006). Ela é doutora em estudos literários e ele servidor público. Os dois  partiram do fato de que as crianças pediam os livros alegando que suas escolas não tinham bibliotecas  ou estas eram muito precárias.   Para manter o projeto a dupla vende alguns títulos mas o valor é determinado pelo comprador.  O fusca foi adaptado, e a Bibliofuscoteca recebeu doações e ajuda coletiva para poder levar cultura pelo estado de Goiás.  A dupla recebe apoio da Faculdade de Letras de Goiás, editoras doam livros.   As pessoas podem comprar, levar, tocar  e doar também.  Matéria de: Curta mais

Minha Mãe, Jorge Mautner e Cesar Lacerda

Quando eu fico muito triste Eu pego a fotografia da minha mãe E aperto bem forte no meu peito Minhas mãos param de tremer Segurando a fotografia E meu coração bate mais forte Mas não é mais uma dor que eu sinto Eu me transformo Possuído de alegria que invade a mim E todo esse recinto E que não tem explicação E eu choro de alegria Rezando aos pés de Nossa Senhora Aparecida Minha mãe me deu a vida E sempre ela me dará a vida Minha mãe me deu a vida E sempre ela me dará a vida Mas não é mais uma dor que eu sinto Eu me transformo Possuído de alegria que invade a mim E todo esse recinto E que não tem explicação E eu choro de alegria Rezando aos pés de Nossa Senhora Aparecida Minha mãe me deu a vida E sempre ela me dará a vida Minha mãe me deu a vida E sempre ela me dará a vida Ouça aqui Album: A Pele do Futuro, Gal Costa (2018) Grav. Biscoito Fino. Imagem: Mauro,  www.magiadoaxe.com.br

O Ídolo de Barro, Austro Costa

Houve um tempo em que foste o ídolo de meu culto. Neste tempo , minha alma era um catedral erguida à luz do Amor e à glória de teu vulto, e em festa acesa, dia e noite, ao Madrigal. Mas, enquanto eu - ingênuo, eu - sonhador estulto sacrificava a ti todo o meu Sonho e Ideal, tu guradavas,cruel, cada qual mais mais oculto, como Bórgias outrora, o veneno e o punhal. Punhal...o veneno.. E eu te adorei de joelhos! Meu ídolo eras tu! ... hoje essas coisas narro e, ao narrá-las, vacilo entre a revolta e o dó. Penso em ti, e arde o pranto em meus olhos vermelhos. Mas bem vejo que  foste um ídolo de barro que, um dia, outro e não eu, talvez reduza a pó. Em: Mulheres e Rosas, Vida e Sonho, De Monóculo, Austro-Costa Ed.CEPE 2012, pág, 122 Leia mais Autro Costa no blog: Capibaribe Meu Rio Dona Alegria Em Sonho Rimas de Luar A Estalagem Encantada Enquanto Chove e a Noite é Triste A Morte do Cisne

Floradas na Serra, Dinah Silveira de Queiroz

O romance  Floradas na Serra , lançado em 1939, tem como pano de fundo a tuberculose e seu tratamento, numa época em que a doença ameaçava a saúde pública e mobilizava a sociedade brasileira em função dos altos índices de mortalidade. O livro representou o primeiro grande sucesso da escritora paulista Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982) e originou versões para o cinema e para a televisão. A escritora, que nutria desde a infância forte obsessão pelo óbito por tuberculose, acreditava que seria herdeira do destino de sua avó e bisavó, vítimas da doença. Dinah percorreu seguidos sanatórios, pensões e consultórios médicos localizados na Serra da Mantiqueira para traçar o perfil dos tuberculosos. Como resultado, floresceu a personagem Elza que, no final da adolescência, partiu da cidade de São Paulo em direção às montanhas, levando para Campos do Jordão os pulmões avariados e a esperança de cura. Ao longo da obra, outro personagem destaca-se: Lucilia, considerada como alter-ego da escrito

Fusca Graciliênico do Sr. Mariano Alves ( Graciliano Ramos em Maceió)

     Em Maceió, um fusca grafite decorado externamente com fotos e frases do escritor alagoano Graciliano Ramos carrega inúmeros livros pela cidade. O pedagogo Mariano Alves de Oliveira, de 59 anos, conduz a biblioteca itinerante e visita as escolas públicas dos bairros. No pátio, ele expõe seu acervo literário e os alunos se aproximam para conhecer, acessar os livros e ouvir sobre literatura. “Graciliano Ramos descreveu como ninguém a realidade de quem vive no sertão nordestino, como um espelho retrovisor onde podemos aprender sobre nossas origens”, relata o pedagogo aos alunos. O “fusca graciliânico” também visita os locais de grande movimento e desperta a atenção das pessoas por onde passa. Junto com os livros, ele monta o pequeno cenário no teto do carro com panela de barro, chapéu de couro, colher de pau e uma escultura de metal que representa Baleia, a cachorrinha personagem de Vidas Secas, e fica à disposição para conversar sobre literatura e, em especial, sobre o seu autor pref

Paulina Chiziane: Primeiro Prêmio Camões Para Uma Mulher Africana

Primeira mulher negra e africana a vencer o prêmio Camões, maior distinção da literatura lusófona, a escritora moçambicana Paulina Chiziane, 67, recebeu oficialmente a láurea nesta sexta-feira, em Lisboa. Em discurso na cerimônia, a ganhadora do prêmio de 2021 pediu a descolonização da língua portuguesa. "É na língua portuguesa que eu expresso os meus sentimentos e me afirmo diante do mundo. Mas eu gostaria que a língua fosse de todos", afirmou. "A língua portuguesa, para ser definitivamente nossa, precisa de um tratamento, de uma limpeza, de uma descolonização", completou. Chiziane falou de "algumas especificidades" do português que a incomodam e elencou uma série de palavras que, nos dicionários, têm textos com considerações preconceituosas em relação a populações africanas. Um dos exemplos citados foi catinga, que no livro citado por ela era um termo definido como "cheiro nauseabundo característico da raça negra". "Somos usurpados, os af

Livro Inédito de Gabriel García Márquez. Vamos Aguardar.

Em 2024, quando se completará 10 anos do falecimento de Gabriel García Máquez, a Ed. Random House lançara em todos os países da língua espanhola (exceto México) um romance inédito do escritor Nobel de Literatura: trata-se de En Agosto Nos Vemos.  “ En agosto nos vemos  foi o fruto de um último esforço para continuar criando faça chuva, faça sol”, explicaram em nota os filhos do escritor, Rodrigo e Gonzalo García Barcha. “Lendo-o novamente quase dez anos depois de sua morte, descobrimos que o texto tinha muitos méritos”, acrescentaram os filhos do escritor que morreu no México, em 17 de abril de 2014, aos 87 anos. Segund o eles, o romance contém “o que sobressai na obra de Gabo: sua capacidade de criação, a poesia da linguagem, a narrativa cativante, seu entendimento do ser humano e seu carinho por suas experiências e suas desventuras, principalmente no amor, possivelmente o tema principal de toda sua obra”. (Editado do Estadão Literatura 1.5.23)

Vento de Maio, Telo Borges e Márcio Borges. Voz: Lô Borges

Vento de maio rainha de raio estrela cadente Chegou de repente o fim da viagem Agora já não dá mais pra voltar atrás Rainha de maio valei o teu pique Apenas para chover no meu piquenique Assim meu sapato coberto de barro Apenas pra não parar nem voltar atrás Rainha de maio valeu a viagem Agora já não dá mais... Nisso eu escuto no rádio do carro a nossa canção Sol girassol e meus olhos abertos pra outra emoção E quase que eu me esqueci que o tempo não pára Nem vai esperar Vento de maio rainha dos raios de sol Vá no teu pique estrela cadente até nunca mais Não te maltrates nem tentes voltar o que não tem mais vez Nem lembro teu nome nem sei Estrela qualquer lá no fundo do mar Vento de maio rainha dos raios de sol Rainha de maio valeu o teu pique Apenas para chover no meu piquenique Assim meu sapato coberto de barro Álbum: Via Láctea. Ano de lançamento:1979 Apenas pra não parar nem voltar atrás