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Mostrando postagens de fevereiro, 2012

Hoje é dia de: A Matemática do Mais Forte, Malba Tahan

Chacal e leão na natureza      O leão, o tigre e o chacal abandonaram, certa vez, a furna sóbria em que viviam e saíram, em peregrinação amistosa, a jornadear pelo mundo, à procura de alguma região rica em rebanhos de tenras ovelhinhas.      Em meio de grande floresta, o temível leão que chefiava, naturalmente, o grupo, sentou-se já fatigado, sobre as patas traseiras, e, erguendo a cabeça enorme, soltou um rugido tão forte que fez tremer as árvores mais próximas. . . .      Ao cair da tarde, guiados pelo chacal, chegaram os viajantes ao alto de um monte, não muito elevado, donde se descortinava uma pequena e verdejante planície.      No meio dessa planície achavam-se descuidados, alheios ao perigo que os ameaçava, três pacíficos animais: uma ovelha, um porco e um coelho.      Ao avistar a presa (...) o leão rosnou :      - Ó tigre admirável! Vejo alí três belos e saborosos petiscos (...) Tú, que és vivo e esperto deves saber, com talento, dividir três por três. Faze, pois, com ju

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore.mp4

As Duas Árvores, Olegário Mariano

Vendo esta árvore velha ao pé da adolescente, Penso em nós dois. A luz e a treva, lado a lado. As cigarras em ti cantam festivamente, Nos meus braços o vento é um choro desolado. Perto de ti, vivo de ti separado Que a luz comum que cai sobre nós, de repente, Em mim nada mais é que um reflexo prateado Enquanto em ti abre clarões de sol nascente. Não tenho nada mais para dar-te. Meus braços Sem folhas,sem calor, torcidos nos espaços, Cavam sombras de dor no barro da barranca. E na luz estival que entre as duas se espelha, A árvore nova olha com pena a árvore velha Como gostas de olhar a minha cabeça branca. (Do livro: Mundo encantado 1955) ortografia atualizada.

Por causa da Revista Veja

 Pequena antologia online: contos brasileiros de carnaval        (Postagem de março de 2011) Folião cerebral, do tipo que sempre valorizou mais uma virada de enredo que uma virada de bateria, fiz um garimpo na grande rede instigado pela aposta de que seria possível montar uma boa antologia de contos de carnaval só com textos disponíveis online, de preferência na íntegra. Deu certo. A meia dúzia de contos abaixo – todos acessíveis a quem clicar sobre os títulos, sem necessidade de baixar arquivos – deixa claro que as relações entre a folia momesca e a literatura brasileira, com perdão do clichê, sempre deram samba. Destaque absoluto para o aterrorizante O bebê de tarlatana rosa , obra-prima de João do Rio, imbatível na captação do lado negro de uma festa solar. De resto, tons sombrios se fazem presentes – o que, pensando bem, não chega a ser surpresa – em praticamente todas as histórias. Pena que o conto Caprichosos da Tijuca , de Marques Rebelo, e a crônica A batalha d

Crônica-cantada: Pilosofia Vurtuguesa, Eduardo Dusek

La la la láa. 2x La la la la la Ai uma coisa eu não aconcebo, E nem posso aconcebeire, Porque é que o sol nasce de dia, Quando não devia seire. Pois se de dia que é tudo tão claro, O que o sol vem aqui fazeire? Já que de noite quando é tudo escuro, É que ele deveria de seire. La la la láa. 2x La la la la la Ai portugal não foi para a guerra, Mas tampouco também não acovardou-se, Cobriu portugal com um pano, Escreveu em cima: "portugal mudou-se". Vocês tem vatapá e feijoada, Lá nós temos vinho e bacalhau, Se voces tem o Chico Buarque, Lá nós temos o roberto leal. La la la láa. 2x Arrebita, arrebira, arrebita. Ai cachopa se tu queres ser bonita, Arrebita, arrebita, arrebita. Vocês que dizem que nós somos burros, Más viemos de longe e descobrimos o brasil, Pois mais burra foi a argentina, Que estava aqui do lado e não viu. Quando chegamos avistamos esta terra, Gritamos com um brado varonil, Oaaaaaaaahhh, ai terra a vista! Oaaaaaaaah,

Mudança no blog...

Amigos, Havia informado mudanças no blog e venho cumprindo desde o ano passado.  O que iniciei por pura brincadeira passou a ser sério e me obrigou a ser bastante exigente com meu conteudo. Tendo em vista que muitos dos visitantes chegam ao blog por causa de pesquisa escolar e pelo fato de receber mensagens de estudantes em busca de material para algum uso, decidi melhorar mais ainda seu conteudo.   Conto, para isso, com sua colaboração, caro internauta. Atualmente publico um poema às segundas-feiras; um conto ou crônica às quartas-feiras e no sábado uma música. Sem periodicidade definida, publico: história bonita, trazendo alguém que ascendeu através da escolarização ; surpresa agradável, é um rápido comentário sobre um livro que tenha me agradado . Recentemente introduzi o comentário do internauta: nele qualquer pessoa fala o que achou de algo que tenha lido e a opinião do leitor pode ser totalmente diferente da opinião da blogueira.  Posto no blog, também, notícia relacinada a li

A vingança, Fernando Sabino

     O irmão mais novo foi assassinado, numa rixa de botequim lá na cidade. A notícia lhe chegou logo, trazida à fazenda por um de seus vaqueiros. O assassino havia fugido, tomando rumo ignorado.      - Se o senhor quiser, nós vamos caçar o homem, patrão.      -Deixa – ordenou ele: Isso é serviço para mim.      Na manhã seguinte, depois do enterro, montou no seu cavalo e partiu. Virou a região de pernas para o ar, colhendo informações aqui e ali: eram parcas as notícias do assassino. Acabou perdendo seu rastro e ao fim de uma semana regressou, estropiado, sujo, barba por fazer:      - Não faço esta barba enquanto não der cabo dele – jurou.      A mulher sugeriu-lhe que ao menos tomasse um banho. Recusou-se:      - Quando raspar a barba eu tomo.      E se deixou ficar, como estava, estirado na rede. Nos dias que se seguiram não fez outra coisa senão treinar pontaria, dando tiros de revólver no terreiro. Largou de lado a administração da fazenda. Em vão o pessoal o procurava, atrapalh

Poema de Quem Ficou, Manuel Lopes

Eu não te quero mal por esse orgulho que tu trazes; por esse teu ar de triunfo iluminado com que voltas… … O mundo não é maior que a pupila dos teus olhos: tem a grandeza da tua inquietação e das tuas revoltas. … Que teu irmão que ficou sonhou coisas maiores ainda, mais belas que aquelas que conheceste… Crispou as mãos à beira do mar e teve saudades estranhas, de terras estranhas, com bosques, com rios, com outras montanhas – bosques de névoa, rios de prata, montanhas de oiro– que nunca viram teus olhos no mundo que percorreste… Fonte: Poet'anarquista (Mindelo,Cabo Verde- 23 de Dezembro de 1907 — Lisboa, 25 de Janeiro de 2005) Manuel António de Sousa Lopes -Foi um ficcionista, poeta e ensaísta, um dos fundadores da moderna literatura cabo-verdiana e que, com Baltasar Lopes da Silva e Jorge Barbosa, foi responsável pela criação da revista Claridade.

Crônica cantada: Noite dos Mascarados:Chico Buarque, Odete Lara e MPB-4

Quem é você? - Adivinha, se gosta de mim! Hoje os dois mascarados Procuram os seus namorados Perguntando assim: - Quem é você, diga logo... - Que eu quero saber o seu jogo... - Que eu quero morrer no seu bloco... - Que eu quero me arder no seu fogo. - Eu sou seresteiro, Poeta e cantor. - O meu tempo inteiro Só zombo do amor. - Eu tenho um pandeiro. - Só quero um violão. - Eu nado em dinheiro. - Não tenho um tostão. Fui porta-estandarte, Não sei mais dançar. - Eu, modéstia à parte, Nasci pra sambar. - Eu sou tão menina... - Meu tempo passou... - Eu sou Colombina! - Eu sou Pierrô! Mas é Carnaval! Não me diga mais quem é você! Amanhã tudo volta ao normal. Deixa a festa acabar, Deixa o barco correr. Deixa o dia raiar, que hoje eu sou Da maneira que você me quer. O que você pedir eu lhe dou, Seja você quem for, Seja o que Deus quiser! Seja você quem for, Seja o que Deus quiser!

A Mulher Que Matou os Peixes

"Essa mulher que matou os  peixes infelizmente sou eu. Mas juro a vocês que foi sem querer. Logo eu! que não tenho coragem de matar uma coisa viva! até deixo de matar uma barata ou outra ." Clarice Lispector assim começa o livro. Na maior franqueza diz que é ela mesma a mulher que matou os peixes, acrescenta que foi sem querer e mostra-se espantada com o que fez por ser uma pessoa sem coragem para tal maldade.  Li esse livro e achei formidável, porque a autora  escreveu como quem conversa francamente. De início já sabemos que foi sem querer, que acredita que as crianças leitoras vão entendê-la e informa que só vai contar como matou os dois peixinhos vermelhos no final do livro. Pondo-se no lugar do leitor responde que vai deixar para o fim porque precisa falar de outros bichos que teve em casa. Fala de uma gata que teve uma grande ninhada, e de como adoeçeu quando os filhote foram dados; diz  que barata é um bicho natural, porque está na casa sem ser convidada, fala que rato

Conto de carnaval:Batalha do Largo do Machado, Rubem Braga

       Como vos apertais, operários em construção civil, empregados em padarias, engraxates, jornaleiros, lavadeiras, cozinheiras, mulatas, pretas, caboclas, massa torpe e enorme, como vos apertais! E como a vossa marcação é dura e  triste! E sobre essa marcação dura a voz do samba se alastra rasgada: “implorar Só a Deus Mesmo assim às vezes não sou atendido. Eu amei.. .”      É um profundo samba orfeônico para as amplas massas. As amplas massas imploram. As implorações não serão atendidas. As amplas massas amaram. As amplas massas hoje estão arrependidas. Mas amanhã outra vez as amplas massas amarão... As amplas massas agora batucam...Tudo avança batucando. O batuque é uniforme. Porém dentro dele há variações bruscas, sapateios duros, reviramentos tortos de corpos no apertado. Tudo contribui para a riqueza interior e intensa do batuque. Uma jovem mulata gorducha pintou-se bigodes com rolha queimada. Como as vozes se abrem espremidas e desiguais, rachadas, ritmadas, e rebe

Cintilar, Ranieri Rodrigues dos Santos

A medida do olhar, Que perpassa pelo sentir, E faz refletir, Pode dizer, pode gritar, pode calar Pode sorrir, pode chorar, pode criticar... A medida do Ouvir, Que ultrapassa o falar, E a faz meditar, Pode pensar, pode interpretar, Pode mentir, pode revelar. A medida do Ser, Que passa o ter, E a faz Sentir, Pode agir, pode correr, pode sofrer, Pode fazer, pode realizar, Pode enfim Renascer.

Crônica cantada: Pé do meu samba - Caetano Veloso

Dez na maneira e no tom Você é o cheiro bom Da madeira do meu violão Você é a festa da Penha, A feira de São Cristovão, É a Pedra do Sal Você é a Intrépida Trupe A Lona de Guadalupe Você é o Leme e o Pontal Nunca me deixa na mão Você é a canção que consigo Escrever afinal Você é o Buraco Quente A Casa da Mãe Joana É a Vila Isabel, Você é o Largo do Estácio, Curva de Copacabana Tudo que o Rio me deu! Pé do meu samba Chão do meu terreiro Mão do meu carinho Glória em meu Outeiro Tudo para o coração De um brasileiro.

O Que É Uma Crônica? Parte 1

     A cada quarta-feira este blog posta uma crônica ou conto. Vários autores e estilos já foram lidos aqui. Hoje o LivroErrante escolheu ser didático e perguntar: o que vem a ser uma crônica?        Quem nos responde é : Alfredina Nery  , professora universitária, consultora pedagógica e docente de cursos de formação continuada para professores na área de língua/linguagem/leitura.  Vamos ao que ela diz:      Assim como a fábula e o enigma , a crônica é um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso. Lendo esse texto, você conhecerá as principais características da crônica, técnicas de sua redação e terá exemplos. Uma das mais famosas crônicas da história da literatura luso-brasileira corresponde à definição de crônica como "narração histórica". É a "Carta de Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha", na qual

O Que É Uma Crônica - parte 2

Recado ao Senhor 903      Vizinho,  Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oes