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Pequenas Gentilezas, poesia de Danusha Lameris

Estive pensando na maneira como, quando você caminhapor um corredor lotado, as pessoas recolhem suas pernas para deixar você passar. Ou como estranhos ainda dizem “Deus te abençoe”
quando alguém espirra, um resquício
da Peste Bubônica. “Não morra”, estamos dizendo.
E das vezes que, ao derrubar limões
de sua sacola de compras, outra pessoa o ajuda
a recolhê-los. Na maioria das vezes, não queremos magoar uns aos outros.
Queremos que receber nossa xícara de café quente,
e agradecer à pessoa que a entregou. Sorrir
para ela e esperar que ela sorria de volta. Para que a garçonete
nos chame de querido quando colocar na mesa a tigela de sopa de mariscos,
e para que o motorista da picape vermelha nos deixe passar.
Temos tão pouco uns dos outros agora. Estamos tão distantes
da tribo e do fogo. Apenas esses breves momentos de partilha.
E se eles forem a verdadeira morada do sagrado, estes
templos fugazes que construímos juntos quando dizemos “Aqui,
pegue o meu lugar”, “Por favor, você primeiro”, “Bonito o seu chapéu”?

Trad.: Nelson Santander



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