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Estão Batendo na Porta, Ricardo Azevedo


homem sério chega cedo
olha seco pras pessoas
cumprimenta com a cabeça
fica longe e vai sentando

homem culto chega aéreo
vive no mundo da lua
abre um livro des’tamanho
distraído vai sentando
homem belo vem bonito
elegante e perfumoso
puxa o espelho, passa o pente
vem pro centro e vai sentando
homem pobre quando chega
chega sem nada na mão
olha quieto, fala baixo
e depois senta no chão
homem sábio chega calmo
um por um vai abraçando
fala pouco, olha os olhos
fica junto e vai sentando
homem doido chega e planta
bananeira na janela
mostra a língua, tira a roupa
pinta o sete e vai sentando
homem chato chega bobo
vem torrando a paciência
fala mole, não se enxerga
enche o saco e vai sentando
homem triste vem sozinho
puxa o lenço e chora um pouco
muita gente chega perto
ele gosta e vai sentando
homem fraco chega branco
capengando agasalhado
geme, espirra, tosse, funga
cospe, engasga e vai deitando
homem alegre chega leve
vem contando as novidades
dá três beijos, quatro abraços
solta o riso e vai sentando
homem errado entra torto
quebra o vaso tropeçando
cai na sala, rasga a calça
ri aflito e vai sentando
homem forte chega imenso
abre a porta trovejando
fala grosso, mostra o muque
abre espaço e vai sentando
homem rico chega tarde
vem falando de dinheiro
faz mil contas, multiplica
preocupado vai sentando
homem tímido não chega
manda dizer que não vem
fica em casa, deita cedo
pra não sentir que tem medo
resta só uma pessoa
pra reunião começar
imagine agora um pouco
quem é que falta chegar.



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