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Recolha, Branca do Sacramento Rodrigues



Sei um saco de cantigas,
Ainda mais um guardanapo.
Quem quer vir ao desafio,
Venha, que eu desato o saco

Cantigas ao desafio,
Comigo ninguém as cante.
Tenho quem mas ensine;
O meu amor é estudante

O meu amor e o teu,
Andam ambos na ribeira.
O meu, anda à erva cidra,
O teu, à erva-cidreira.

Não olhes para mim, não olhes,
Que eu não sou o teu amor.
Eu não sou como a figueira,
Que dá fruto sem dar flor.

Aqui estou à tua porta.
Como um feixe de lenha!
A espera da resposta,
Que da tua boca me venha.

MaIo haja o grão-de-bico,
E mais o feijão guisado.
MaIo hajam esses olhos,
Que tanto são do meu agrado!

Tenho na minha janela
Tulipas até ao chão.
Quando te vejo falar com outra,
São facadas que me dão.

Não me namora teu ouro,
Nem os brincos das orelhas.
Namoram-me esses teus olhos,
Por baixo das sobrancelhas.

Lá te mandei um raminho
De cravos e cravelinas,
Por não te poder mandar
Dos meus olhos as meninas

Tenho dentro do meu peito
Um ramo de violetas
O dia que te não vejo,
De roxas, tornam-se pretas.

Andorinha que esvoaças,
Tem cuidado no subir.
Quem ao mais alto sobe,
Ao mais baixo vem cair.

Uma mãe que o filho embala
As vezes, põe-se a chorar,
Só por não saber a sorte
Que Deus tem para lhe dar.





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