Um burro diz a um tigre que a erva é azul!"Não" retorque o tigre, "é verde"!
A troca de ideias fica azeda e resolvem recorrer ao Rei Leão para arbitrar a disputa. Bem antes de chegarem à clareira onde o leão descansava, o burro põe-se a gritar - " Vossa Majestade, a erva é azul, não é azul, a erva, Majestade?"
O leão responde-lhe:
- Sim, a erva é azul!
Diz então o burro: "Majestade, o tigre não está de acordo comigo e isso aborrece-me, que castigo lhe darás?"
- O tigre será punido com cinco anos de silêncio, diz então o leão, Rei da Selva.
O burro regozija e, saltando de contentamento, continua o seu caminho repetindo incansavelmente: " a erva é azul, a erva é azul..."
O tigre aceita a punição, mas pergunta ao leão: "Vossa Alteza porque me pune? Não é verde a erva, afinal?"
Diz-lhe o leão:
- Efetivamente é verde, a erva. "Porque me punis então?" pergunta o tigre.
Explica o leão:
- Isso não tem nada a ver com a questão de saber se a erva é azul ou verde. A tua punição deve-se ao facto de uma criatura corajosa e inteligente como tu tenha perdido o seu tempo a discutir com um louco fanático que não se ajusta à realidade ou à verdade, mas somente à vitória das suas crenças e ilusões. Nunca percas tempo com argumentos que não fazem sentido nenhum. Há pessoas que, quais que sejam as provas que lhes apresentemos, não têm a capacidade de entender o que lhes é dito. E outras há que, cegas pelo ego, pelo ódio e pelo ressentimento, não desejam senão uma coisa: ter razão, mesmo sem a ter.
Ora, quando a ignorância grita, a inteligência cala-se, remata o leão, Rei da Selva.
Fábula tunisina citada por Pedro Melvill Araújo, no seu artigo de opinião, no Diário de Notícias (22 setembro 2021)Ilustração Rita Cardelli
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