Pular para o conteúdo principal

Comecei a ler: O Barco das Crianças, Mário Vargas Llosa



      Era uma vez uma velhinho
que toda manhã bem
cedo, sentado num
banco de uma pequeno parque em Barranco,
contemplava o mar.


Fonchito via de sua casa, emquanto se
preparava para ir para o colégio. Aquele velhinho
o intrigava: o que fazia ali, sozinho, a essa hora,
todos os dias? Sentia um pouco de pena dele.
Um dia, não aguentando mis de curiosidade,
logo depois de acordar we antes de que o ônibus do
colégio viesse buscá-lo, saiu de casa e foi até o
parquinho. Sentou no mesmo banco que o velho e,
após um instante de hesitação, tomou coragem e
murmurou: "Bom dia".
O velho se virou para olhá-lo. Fonchito reparou
que em seu rosto cheio de rugas cintilavam uns
olhos vivos e ainda jovens. Uns olhos tão intensos
que parecias ter visto todas as maravilhas
que existem no mundo. Seu cabelo era muito branco,
assim como as sobrncelhas, e sua cútis, barbeada
com esmero, era muito pálida quase translúcida.
Parecia muito frágil; sua magrza extrema lhe
dava aspecto quase irreal. Vestia-se com
mosdéstia mas com grande esmero, um terno
cinza, um suéter azul, uma gravatinha escura
com um nó bem pequeno e sapatos pretos
bastante puídos pelo tempo, que pareciam ter'
sido recém engraxados. Tinha aquela
expressão tranquila e profunda das
pessoas que sabem muitas coisas.
- Olá, rapazinho - cumprimentou
o velhote com uma voz tão suave que
se podia confundir com o gorgeio de um
passarinho.
- Eu moro ali - disse Fonchito
apontando seu prédio. - e vejo o
senhor toda manhã enquanto estou
esperando o ônibus do colégio.
O velho assentiu, sorrindo:
- Aposto que você quer saber o que
faço aqui todas as manhãs e porque olho o
mas com tanta insistência, não é mesmo?
Fonchito confirmou, balançando a
cabeça várias vezes.




O Barco da Crianças

Mário Vargaas Llosa
Cia da Letrinhas 2021
Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman
Ilustrações: Zuzanna Celej



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Beleza Total, Carlos Drummond de Andrade.

A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda a capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um di

Mãe É Quem Fica, Bruna Estrela

           Mãe é quem fica. Depois que todos vão. Depois que a luz apaga. Depois que todos dormem. Mãe fica.      Às vezes não fica em presença física. Mas mãe sempre fica. Uma vez que você tenha um filho, nunca mais seu coração estará inteiramente onde você estiver. Uma parte sempre fica.      Fica neles. Se eles comeram. Se dormiram na hora certa. Se brincaram como deveriam. Se a professora da escola é gentil. Se o amiguinho parou de bater. Se o pai lembrou de dar o remédio.      Mãe fica. Fica entalada no escorregador do espaço kids, pra brincar com a cria. Fica espremida no canto da cama de madrugada pra se certificar que a tosse melhorou. Fica com o resto da comida do filho, pra não perder mais tempo cozinhando.      É quando a gente fica que nasce a mãe. Na presença inteira. No olhar atento. Nos braços que embalam. No colo que acolhe.      Mãe é quem fica. Quando o chão some sob os pés. Quando todo mundo vai embora.      Quando as certezas se desfazem. Mãe

Os Dentes do Jacaré, Sérgio Capparelli. (poema infantil)

De manhã até a noite, jacaré escova os dentes, escova com muito zelo os do meio e os da frente. – E os dentes de trás, jacaré? De manhã escova os da frente e de tarde os dentes do meio, quando vai escovar os de trás, quase morre de receio. – E os dentes de trás, jacaré? Desejava visitar seu compadre crocodilo mas morria de preguiça: Que bocejos! Que cochilos! – Jacaré, e os dentes de trás? Foi a pergunta que ouviu num sonho que então sonhou, caiu da cama assustado e escovou, escovou, escovou. Sérgio Capparelli  CAPPARELLI, S. Boi da Cara Preta. LP&M, 1983. Leia também: Velho Poema Infantil , de Máximo de Moura Santos.