ao telefone
por que não
escrevia
poesia (ao
menos um poema)
sobre os
meus gatos;
mas quem se
interessaria
pelos meus
gatos,
cuja única
evidência
é serem meus
(digamos assim)
e serem
gatos
(coisa
vasta, mas que acontece
a todos os
da sua espécie)?
Este poderia
(talvez) ser
um tema
(talvez até
um tema nobre),
mas um tema
não chega para um poema
nem sequer
para um poema sobre;
porque é o
poema o tema,
forma
apenas.
Depois, os
meus gatos
escapam
demais à poesia,
ou de menos,
o que vai dar ao mesmo,
são muito
longe
ou muito
perto,
e o poema
precisa do tempo certo
de onde
possa, como o gato, dar o salto;
o poema que
fizesse
faria deles
gatos abstractos,
literários,
gatos-palavras,
desprezível
comércio de que não me orgulharia
(embora a
eles tanto lhes desse).
Por fim, não
existem “os meus gatos”,
existem uns
tantos gatos-gatos,
um gato,
outro gato, outro gato,
que por um
expediente singular
(que, aliás,
também absolutamente lhes desinteressa)
me é dado
nomear e adjectivar,
isto é,
ocultar,
tendo assim
uns gatos em minha casa
e outros na
minha cabeça.
Ora só os da
cabeça alcançaria
(se
alcançasse) o duvidoso processo da poesia.
Fiquei-me
por isso por uma prosa,
e mesmo
assim excessivamente corrida e judiciosa.
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