O camarada que tinha acabado de chegar de
Paris e – por sinal – com certa humildade, estava sentado numa poltrona,
durante a festinha, quando a dona da casa veio apresenta-lo a um cavalheiro
gordote, de bigodinho empinado, que logo se sentou a seu lado e começou a
“boquejar” (como diz o Grande Otelo):
– Quer dizer que esta vindo de Paris, hem?
– arriscou. O que tinha vindo fez um ar modesto: – E!!!
– Naturalmente o amigo não se furtou ao
prazer de ir visitar o Palácio de Versalhes.
– Não. Não estive em Versalhes. Era muito
longe do hotel onde me hospedei.
– Mas o amigo cometeu a temeridade de não
ficar no Plaza Athénée?
O que não ficara no Plaza Athénée deu uma
desculpa, explicou que o seu hotel fora reservado pela Cia. Onde trabalha e,
por isso, não tivera vez escolha.
– Bem – concordou o gordinho –, o Plaza
realmente e um pouco caro, mas é muito central e há outros hotéis mais modestos
que ficam perto do Plaza. – E depois de acender um cigarro, lascou: – Passeou
pelos Bois?
– Passei pelo Bois uma vez, de táxi.
– Mas o amigo vai me desculpar a
franqueza; o amigo bobeou. Não há nada mais lindo do que um passeio a pé pelo
Bois de Boulogne, ao cair da tarde. E não há nada mais parisiense também.
– É... eu já tinha ouvido falar nisso. Mas
havia outras coisas a fazer.
– Claro... claro... Há coisas mais
importantes, principalmente no setor das artes – e sem tomar o menor folego: –
Visitou o Louvre?...
– Visitei.
– Viu a Gioconda?
O recém-chegado não tinha visto a
Gioconda. No dia em que esteve no Louvre, a Gioconda não estava em
exposição.
– Mas o senhor prevaricou – disse o gordinho, quase zangado. – A
Gioconda só está em exposição as 5.as e sábados e ir ao Louvre noutros
dias é negar a si mesmo uma comunhão maior com as artes.
Passou uma senhora, cumprimentou o
ex-viajante e, mal ela foi em frente, nova pergunta do cara:
– E a comida de Paris, hem amigo? Você
jantava naqueles bistrozinhos de Saint-Germain? Ou preferia os restaurantes típicos
de Montmartre? Ha um bistrô que fica numa transversal da Rue de...
Mas não pode acabar de esclarecer qual era
a rua, porque o interrogado foi logo afirmando que jantara quase sempre no
hotel. E sua paciência se esgotou quando o chato quis saber que tal achara as
mulheres do Lido.
– Eu não fui ao Lido também. O senhor
compreende. Eu estive em Paris a serviço e sou um homem de poucas posses. Quase
não tinha tempo para me distrair. De mais a mais, lá e tudo muito caro.
– Caríssimo – confirmou o gordinho, sem se
mancar.
– O senhor, naturalmente, esteve lá a
passeio e pode fazer essas coisas todas – aventou, como quem se desculpa.
Foi ai que o gordinho botou a mãozinha
rechonchuda sobre o peito e exclamou: – Eu??? Mas eu nunca estive em Paris!
(Ponte Preta, Stanislaw. O melhor de Stanislaw. Rio de Janeiro: José Olympio,
1989.)
kkkkkk muito bom...
ResponderExcluirUma excelente crônica para trabalhar com jovens alunos mostrando a importância da leitura.
ResponderExcluirTem razão!
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