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Um Tema e Dois Poemas, Oswald de Andrade / Ascenso Ferreira

Um título para dois poemas, dois autores, duas épocas, duas visões
História Pátria 
Oswald de Andrade

Lá vai uma barquinha carregada de 
                                              Aventureiros
Lá vai uma barquinha carregada de
                                               Bacharéis
Lá vai uma barquinha carregada de
                                               Cruzes de Cristo
Lá vai uma barquinha carregada de
                                               Donatários
Lá vai uma barquinha carregada de
                                               Espanhóis
                                          Paga prenda
                                          Prenda os espanhóis!     
Lá vai uma barquinha carregada de
                                           Flibusteio
Lá vai uma barquinha carregada de
                                           Governadores
Lá vai uma barquinha carregada de
                                            Holandeses
Lá vai uma barquinha cheinha de índios
Outra de degradados
Outra de pau de tinta
          Até que o mar inteiro
          Se acoalhou de transatlânticos
          E as barquinhas ficaram
          Jogando prenda coa raça misturada
          No litoral azul de meu Brasil.

 


  Ascenso Ferreira 
HisH
Plantando mandioca, plantando feijão,
colhendo café, borracha, cacau,
comendo pamonha, canjica, mingau,
rezando de tarde nossa ave-maria,
Negramente...
Caboclamente...
Porguesamente...
A gente vivia.

De festas no ano só quatro é que havia :
Entrudo e Natal, Quaresma e Sanjoão !
Mas tudo emendava num só carrilhão !
E a gente vadiava, dançava, comia...
Negramente...
Caboclamente...
Portuguesamente...
Todo santo dia !

O Rei, entretanto, não era da terra !
E gente pra Europa mandou-se estudar...
Gentinha idiota que trouxe a mania
de nos transformar
da noite pro dia...

A gente que tão
Negramente...
Caboclamente...
Portuguesamente...
Vivia !

(E foi um dia a nossa civilização
tão fácil de criar!)

Passou-se a pensar,
passou-se a cantar,
passou-se a dançar,
passou-se a comer,
passou-se a vestir,
passou-se a viver,
passou-se a sentir,
tal como Paris
pensava,
cantava,
comia,
sentia...
A gente que tão
Negramente...
Caboclamente...
Portuguesamente...
                                                                                                                                                     Vivia !
Imagens: Infoescola e Tribuna da internet

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