A sombra dança na parede do quarto.
Não tem a imobilidade das coisas mortas,
Mas tem o instinto dos seres vivos.
Abre os braços e chama alguém para junto dela.
Este alguém, de olhos velhos e de rosto sulcado,
Conserva-se imóvel olhando os seus gestos,
Conserva-se imóvel sentindo nos braços
O cheiro de rosas que ficou na pele,
Que ficou no corpo, que ficou na boca,
O gosto de sangue na língua ferida
Que a a sombra deixou antes de ser sombra,
Quando era, na alvura dos lençóis de linho,
Um corpo moreno de gestos elásticos,
De boca sangrando, de pernas nervosas,
De pele cheirosa nos lençóis de linho.
Agora este cheiro, este medo, esta agonia
E estes braços de louco querendo arrancar
A sombra que dança na parede vazia...
(Em: Mundo Encantado, ano:1955- que está incluído no 2º vol. de Toda Uma Vida de Poesia da Ed. José Olímpio, ano:1957)
Leia também: O Poço da Panela, de Olegário Mariano, versão completa e na grafia original clicando aqui
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