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Mostrando postagens de outubro, 2012

Os Zoológicos Nunca me Convenceram, Flávia de Gusmão

Os zoológicos nunca me convenceram, nem quando eu era pequenininha. Uma excrescência nos dias atuais, depósitos de animais ali colocados para servir exclusivamente ao prazer que o ser humano encontra em observar o exótico, o diferente, sem com ele se misturar, defendido, protegido e separado por cercas e fossos. Minha última experiência do naipe remonta alguns anos, quando, por insistência de filhos e sobrinhos, durante uma estada em São Paulo, rendi-me aos apelos de visitar o exemplar daquela cidade, supostamente o melhor que havia no País.                Pode até ser, mas, ainda assim, tinha um defeito grave: era zoológico e, como tal, um museu de seres que sentem e se mexem. Jurei nunca mais, e nunca mais mesmo.Era verão e, só para reforçar, verão paulista, que em nada se compara ao nosso em termos de brisa. E aqui fazendo um adendo, acho uma graça danada quando os sulistas e sudestinos ameaçam achar um absurdo que nós, nordestinos, ousemos abrir a boca para dizer: “Ai q

Os Donos de Outubro

Fecho a janela deste mês abrindo a porta da sala dos aniversariantes de outubro. Vale a pena rever as postagens que este blog já fez com o nome de cada um deles. 12 de outubro é de Fernando Sabino que informou querer ser criança quando crescesse. Vinicius de Moraes , o homem que fazia questão de viver apaixonado. Nasceu no dia 19 de outubro e estaria hoje com 99 anos. Menino sábio criador do homem maluquinho, Ziraldo , povoou a infância de meus filhos e também me divertiu desde o Pasquim. Nasceu no dia 21 de outubro.   Graciliano Ramos , escrevia enxuto como ninguém e foi quem primeiro pensou em alimentar os alunos da escola pública para resolver problema de evasão e pouco rendimento escolar. Nasceu no dia 27 e teria hoje 120 anos. E, por fim, o incrível Carlos Drummond de Andrade   dono do dia 31 e de tanta coisa linda que nos embala o coração até hoje.

A Dança da Sombra Na Parede, Olegário Mariano

A sombra dança na parede do quarto. Não é minha. Não tem meus gestos nem meus cabelos, Não tem a imobilidade das coisas mortas, Mas tem o instinto dos seres vivos. Abre os braços e chama alguém para junto dela. Este alguém, de olhos velhos e de rosto sulcado, Conserva-se imóvel olhando os seus gestos, Conserva-se imóvel sentindo nos braços O cheiro de rosas que ficou na pele, Que ficou no corpo, que ficou na boca, O gosto de sangue na língua ferida Que a a sombra deixou antes de ser sombra, Quando era, na alvura dos lençóis de linho, Um corpo moreno de gestos elásticos, De boca sangrando, de pernas nervosas, De pele cheirosa nos lençóis de linho. Agora este cheiro, este medo, esta agonia E estes braços de louco querendo arrancar A sombra que dança na parede vazia... (Em: Mundo Encantado, ano:1955- que está incluído no 2º vol. de Toda Uma Vida de Poesia da  Ed. José Olímpio, ano:1957) Leia também: O Poço da Panela ,  de Olegário Mari

Sábado cheio de Graça! Salve Graciliano.

                        Hoje Graciliano Ramos faria 120 anos,  quem me conhece sabe do quanto gosto do alagoano fumante inveterado, apreciador de cachaça e chatão. Falar a respeito de Graciliano Ramos?  vou nada! vários jornais e revista fazem isso hoje. Todos com mais capacidade. Não quero me aventurar de expert em literatura e acabar cometendo faltas, enganos absurdos. Aqui no Recife ao velho Graça vão ser dedicadas as próximas segunda e terça-feiras de um seminário na Academia Pernambucana de Letras, público pequeno pela pouca divulgação e pouco movimentar-se da APL em direção ao público.  Fico feliz em saber que no Rio de Janeiro a Flip   deu o ar de  sua graça e dedicou  sua feira ao autor. A Flip de 2013 homenageará Graciliano Ramos. Palmas para Paraty. Três lançamentos marcam os 120 anos de nascimento de Gracilianos Ramos: O Velho Graça (Ed.boitempo) Biografia ampliada - Dênis de Moraes Box contendo: Caetés,São Bernardo, Angústia e Vidas Secas   (4 prime

Crônica - cantada:Chegança, Antônio Carlos Nóbrega

Sou Pataxó, sou Xavante e Cariri, Ianonami, sou Tupi Guarani, sou Carajá. Sou Pancararu, Carijó, Tupinajé, Potiguar, sou Caeté, Ful-ni-o, Tupinambá. Depois que os mares dividiram os continentes quis ver terras diferentes. Eu pensei: "vou procurar um mundo novo, lá depois do horizonte, levo a rede balançante pra no sol me espreguiçar". eu atraquei num porto muito seguro, céu azul, paz e ar puro... botei as pernas pro ar. Logo sonhei que estava no paraíso, onde nem era preciso dormir para se sonhar. Mas de repente me acordei com a surpresa: uma esquadra portuguesa veio na praia atracar. De grande-nau, um branco de barba escura, vestindo uma armadura me apontou pra me pegar. E assustado dei um pulo da rede, pressenti a fome, a sede, eu pensei: "vão me acabar". me levantei de borduna já na mão. Ai, senti no coração, o Brasil vai começar.

Ziraldo, 80 anos!!

  Hoje é aniversário de Ziraldo e o blog publica entrevista concedida pelo autor à Agência O Globo: Ziraldo, um menino oitentão Às vésperas de completar 80 anos, Ziraldo rechaça os mitos da velhice, diz que a libido é mais importante que a ereção e mostra-se pronto a mudar de ideia quando necessário, ao admitir que Monteiro Lobato era racista. Não perdoa, contudo, os amigos que o atacaram por ter recebido indenizações por reparação a danos sofridos durante a ditadura militar. "Eles fizeram questão de me linchar." Ziraldo, 80. Como é isso? Oitenta é quando o cara pode ser chamado de ancião. Antes, é garoto. Se bem que na minha turma de oitentões não tem ancião: Zuenir (Ventura), Roberto Farias, Sérgio Ricardo, Ferreira Gullar, Zé Hugo Celidônio, Alberto Dines, Jaguar, Antônio Abujamra. Não tenho essa coisa de ter saudade da infância, esse papo de que infância é vida boa... Tenho saudades sim da adolescência, do rostinho colado no DCE em BH, da "nossa música

Janelas de Hotéis: Cecília Meireles

     Quem sabe o que vamos encontrar quando, num hotel desconhecido, abrimos pela primeira vez a janela do quarto? Por trás das cortinas, das vidraças, das veneziana, há uma inocente imagem desprevenida que se entrega aos olhos - à nossa alma, afinal - coma mais tranquila naturalidade.    Oh! inesperadas imagens que assinalam o nosso primeiro encontro com uma cidade; que são  como estampas de um livro de viagens subitamente aberto; que se tornam inesquecíveis e, muitas vezes, são o anúncio e a síntese de quanto iremos ver depois em nossas andanças pelas ruas, em nossa aproximação de pessoas e objetos.

Soneto da Porta, Lêdo Ivo

Quem bate à minha porta não me busca. Procura sempre aquele que não sou e, vulto imóvel atrás de qualquer muro, é meu sósia ou meu clone, em mim oculto. Que saiba quem me busca e não me encontra: sou aquele que está além de mim, sombra que bebe o sol, angra e laguna unidos na quimera do horizonte. Sempre andei me buscando e não me achei: E ao pôr-do-sol, enquanto espero a vinda da luz perdida de uma estrela morta, sinto saudades do que nunca fui, do que deixei de ser, do que sonhei e se escondeu de mim atrás da porta.

2º PicNic das Blogueiras em Recife

  Domingo 4 de novembro a partir das 10h no Parque da Jaqueira

Crônica-cantada:Princípio do Prazer - Geraldo Azevedo

Juntos vamos esquecer, Tudo que doeu em nós Nada vale tanto pra rever O tempo que ficamos sós Faz a tua luz brilhar Pra iluminar a nossa paz O meu coração me diz Fundamental é ser feliz Juntos vamos acordar o amor Carícias, canções, deixa  entrar o sol da manhã A cor do som, eu com você sou muito mais O princípio do prazer Sonho que o tempo não desfaz O meu coração me diz Fundamental é ser feliz

Romero Britto Para Crianças!

     Acabei de saber que o pintor brasileiro residente em NY, Romero Britto lançou seu segundo livro infantil. Eu não sabia do primeiro.  Se você também não sabia,vamos, então, começar do começo: Onde Está o Urso da Amizade? foi lançado em 2011 pela Editora Globo . É um livro que explora bem o lado sensorial das crianças. O subtítulo: Levante as abas e sinta as texturas, já explica esse objetivo. As crianças inicialmente atraídas pelo colorido intenso que caracteriza os desenhos de Romero Brito vão ler a maciez do pato a textura da  gravata com os dedinhos.  C o r e s diver ti das é o segundo livro, lançado recentemente     pela Ed.Globinho.   Para recuperar o colorido total dos animais da fazenda, as crianças vão ter de  de encaixar peças nos lugares descoloridos. As pecinhas estão no final do livro e a criançada vão colorizar os animais a seu gosto. Provavelmente nenhum animal ficará muito diferente do que o famoso pintor faria, afinal sua obra para adultos tem formas e cor

Fliporto 2012 - de 15 a 18 de novembro em Olinda- PE

Já comprei meus ingressos para Mia Couto/ Eduardo Agualusa, Edney Silvestre/ Cristiane Torloni e aula espetáculo do encerramaneto da Feira, com Ariano Suassuna. E você ? Vai perder?  Tem muita coisa e além de tudo é em Olinda, que por si vale conhecer.  Vejam mais a respeito, clicando aqui   e para adquirir ingressos, clique aqui . Aguardo você.

Na delegacia, Carlos Drummond de Andrade

- Madame, queira comparecer com urgência ao Distrito. Seu filho está detido aqui. -Como? O senhor ligou errado. Meu filho detido? Meu filho vive há sei meses na Bélgica, estudando Física. -E a senhora só tem esse? -Bom, tenho também o Caçulinha, de dez anos. - Pois é o Caçulinha. - O senhor está brincando comigo. Não acho graça nenhuma. Então um menino de dez anos foi parar na Polícia? - Madame vem aqui e nós explicamos. A senhora correu ao Distrito, apavorada. Lá estava o Caçulinha, cabeça baixa, silencioso. - Meu filho, mas você não foi ao colégio? que foi que aconteceu? Não se mostrou inclinado a responder, -Que foi que meu filho fez, seu comissário? Ele roubou? Ele matou?

Um Tema e Dois Poemas, Oswald de Andrade / Ascenso Ferreira

Um título para dois poemas, dois autores, duas épocas, duas visões História Pátria   Oswald de Andrade Lá vai uma barquinha carregada de                                                Aventureiros Lá vai uma barquinha carregada de                                                Bacharéis Lá vai uma barquinha carregada de                                                Cruzes de Cristo Lá vai uma barquinha carregada de                                                Donatários Lá vai uma barquinha carregada de                                                Espanhóis                                           Paga prenda                                           Prenda os espanhóis!      Lá vai uma barquinha carregada de                                            Flibusteio Lá vai uma barquinha carregada de                                            Governadores Lá vai uma barquinha carregada de                                             Holandeses Lá vai uma barqu

Finalista TopBlog 2012

Este blog, é finalista da edição 2012 do Prêmio TopBlog na categoria Literatura.  C onto com seu apoio para continuar bem cotada no segundo turno. Para votar b asta clicar no selo dourado   que está ao lado direito  da tela.  Vote, com seu(s) email(s), seu Twitter e com seu Facebook .     B logueira agradece.

História de Uma Guariba, Graciliano Ramos

I -               Um domingo destes, contou Alexandre aos amigos, vesti o guarda-peito e o gibão, cobri-me com o chapéu de couro e acendi o cachimbo, pus o ai ó a tiracolo, peguei a espingarda, resolvido a desenferrujá-la, se aparecesse caça graúda. Saí pelo terreiro, dei umas voltas nos arredores, andei, virei, mexi, afinal encontrei numa vereda, subi a ladeira dos preás e, sem encontrar bicho que merecesse uma carga de chumb o e um dedal de pólvora, cheguei à imburana, perto da cerca de ramos. Aí, como o calor apertasse, tirei o aió, o chapéu, o gibão e o guarda peito, estirei-me no chão e passei uma hora de papo pra cima, fumando e pensando nos aperreios deste mundo velho. Sentia-me bem triste,meus amigos, bem desanimado. Eu, homem de família, nascido na grandeza, criado na fartura, tendo o que precisava, do bom e do melhor,estava por baixo, muito por baixo:deitado em garranchos de folhas secas, a cabeça num travesseiro de couros dobrados. Fui-me amadornando, o cachi