A fama de tímido erguia em torno do poeta uma muralha que nem celebridades confessadamente admiradas pelo próprio Drummond ousavam transpor.
Nara Leão viu uma vez Drummond andando pela rua, em Ipanema. “Não tive coragem de falar com ele. Fiquei encabulada. Fico com uma certa taquicardia ao lembrar”, confessa. Nara Leão tinha todos os motivos para, pelo menos uma vez, falar com Carlos Drummond pessoalmente. Antes, com lágrimas nos olhos, ela já dera um telefonema de agradecimento a um gesto de solidariedade que Drummond lhe prestara.
Numa entrevista dada por telefone a um repórter de jornal, em 1965, no início de um governo fardado que terminaria se estendendo por duas décadas, Nara pedia aos militares que entregasse o poder aos civis.
As manchetes de jornais alardeavam, numa época em que os censores ainda não tinham desembarcado nas redações: “Nara é de opinião: esse Exército não vale nada”; “Nara pode ser presa mas não muda de opinião”; “Nara: sou contra militar no poder”; “Entrevista abalou os alicerces do Exército Nacional”; “Considero os exércitos, no plural, desnecessários e prepotentes”; “Meu violão é a única arma que tenho; meu campo de guerra é o palco.”
Nara Leão viu uma vez Drummond andando pela rua, em Ipanema. “Não tive coragem de falar com ele. Fiquei encabulada. Fico com uma certa taquicardia ao lembrar”, confessa. Nara Leão tinha todos os motivos para, pelo menos uma vez, falar com Carlos Drummond pessoalmente. Antes, com lágrimas nos olhos, ela já dera um telefonema de agradecimento a um gesto de solidariedade que Drummond lhe prestara.
Numa entrevista dada por telefone a um repórter de jornal, em 1965, no início de um governo fardado que terminaria se estendendo por duas décadas, Nara pedia aos militares que entregasse o poder aos civis.
As manchetes de jornais alardeavam, numa época em que os censores ainda não tinham desembarcado nas redações: “Nara é de opinião: esse Exército não vale nada”; “Nara pode ser presa mas não muda de opinião”; “Nara: sou contra militar no poder”; “Entrevista abalou os alicerces do Exército Nacional”; “Considero os exércitos, no plural, desnecessários e prepotentes”; “Meu violão é a única arma que tenho; meu campo de guerra é o palco.”
Ameaçada de prisão,Nara Leão recebeu, pelo jornal, a solidariedade de Carlos Drummond de Andrade, através de um poema de circunstância chamado Apelo. (Dossiê Drummond-Geneton Moraes Neto)
Dirigente da nação
Venho fazer-lhe um apelo
Não prenda Nara Leão
Soube que a Guerra, por conta,
Lhe quer dar uma lição. Vai enquadrá-la
– esta é forte –
Artigo tal... não sei não
A menina disse coisas
De causar estremeção?
Pois a voz de uma garota
Abala a revolução?
Nara quis separar
O civil do capitão
Em nossa ordem social
Lançar desagregação?
Será que ela tem na fala,
Mais do que charme, canhão?
Ou pensam que, pelo nome,
Em vez de Nara, é leão?
Se o general Costa e Silva,
Já nosso meio-chefão
Tem pinta de boa praça,
Porque tal irritação?
Ou foi alguém que, do contra,
Quis criar amolação
A seu
Artur, inventando
Este caso sem razão?
Que disse a mocinha, enfim,
De inspirado pelo cão?
Que é pela paz e amor
E contra a destruição?
E, depois, se não há preso,
Político na ocasião,
Por que fazer da menina
Uma única exceção?
Ah, marechal, compre um disco
De Nara, tão doce, tão
Meigamente brasileira,
E remeta ao escalão;
Ao ouvir o que ela canta
E penetra o coração,
O que é música de embalo
Em meio a tanta aflição.
O gabinete zangado
Que fez um tarantantão,
Denunciando Narinha,
Mudava de opinião.
De música precisamos
Para pegar o rojão,
Para viver e sorrir,
Que não está mole não.
Nara é pássaro, sabia?
E nem adianta prisão
Para a voz que pelos ares,
Espalha sua canção.
Meu ilustre general,
Dirigente da nação,
Não deixe, nem de brinquedo,
Que prendam Nara Leão.
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