No último fim de semana, terminei de ler Dossiê Drummond, de Geneton Moraes Neto. Depois de ver, numa entrevista, que o livro não se tratava de mais uma antologia do poeta e como Geneton tem crédito comigo, comprei o livro. Pra quê? Tive que ir até altas horas porque não consegui desgrudar. O autor fez uma longa entrevista com C.D.A, a última dada pelo poeta, e é essa entrevista que conduz o livro. Conduz, não pensem que é só da entrevista que consta a obra. Não. Geneton coloca a poesia que for citada ou trecho da poesia a que se refere o trecho da conversa tida; Entremeia com explicações sociais quando são necessárias. No dossiê constam depoimentos de pessoas muitíssimo próximas a Carlos Drummond de Andrade, que deixam suas impressões a respeito de um Drummond, que nós não conhecemos. Boas e más também, afinal o poeta não era, nem queria parecer, um deus.
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“O controle era uma arma para conceder ou negar papel para jornal, para facilitar ou dificultar a importação. O governo exercia uma pressão sobre os jornais sem necessidade de dar ordens ...)”..(página 133 - Carlos Drummond explicando como era feita a censura à imprensa na época de Getúlio Vargas - coisa que acontece atualmente na Argentina e na Venezuela.
Alcindo Braga, Barba Azul, Carlos Alberto além de uma série de pseudônimos como El Caballero sentimental, foram usados pelo poeta (página161)
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Numa conversa com Roberto D’Ávila, gravada para a TV Manchete, Drummond exibiu de novo aquela modéstia constrangida: parecia um iniciante ao confessar que sonhava ver dois monstros sagrados do teatro brasileiro encenando o musical nos palcos... (página 194)
(refere-se a um musical que ele imaginou e até determinou os atores principais: Paulo Gracindo e Bibi Ferreira)
Meu pai, convivi muito pouco com ele. Era uma relação de muito respeito, muito medo. A mãe da gente usava a figura distante do pai para aumentar sua autoridade sobre nós. E meu pai falava pouco, não me lembro do tom de sua voz. Ele morreu há muito e muitos anos, uma coisa muito longínqua no tempo. Pois, de repente, meu pai me voltou. Agora somos íntimos, ele caminha comigo, ao meu lado, ouço sua voz, sinto sua respiração, seu calor, como se ele estivesse andando ao meu lado...De repente, no melhor da conversa Drummond pára e diz: Bem, até logo eu vou para lá...( Página 253-Narração do cartunista Nássara)
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Drummond escrevera um livro infantil. A repórter pergunta a ele: -Quem é que vai ilustrar?
Ele respondeu, segundo O Globo, “estou com vontade de pedir a Ziraldo. Não sei se ele vai aceitar.
Algum tempo antes, eu preparava um livro de fotos de Pedro Henrique sobre o Brasil, uma coleção de fotos bonitas como pintura que chamei de Impressões do Brasil. Pedro Henrique sugeriu que eu pedisse ao Drummond para fazer um texto, um poema, em Cia das fotos. Drummond concordou!!! Mandei-lhe a boneca do livro, ele começou o poema, parou no meio e me telefonou: “Não dá pra fazer um livro a favor. O Brasil está uma esculhambação (sic).Minha impressão do Brasil é a pior possível. (Página 158)
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Quando Ziraldo lançou Flicts, deu um exemplar com dedicatória a C.D.A. que gostou e elogiou o livro no Correio da Manhã (1969):
“Fiquei sem saber como agradecer ao poeta. Peguei um desenho meu que ganhara o prêmio da 32ª Bienal de Humor de Bruxelas, um astronauta descobrindo um Deus negro no espaço.Era o desenho mais bonito que eu fizera na vida – na minha opinião – e mandei par ele com um bilhetinho, dizendo exatamente isto: eu estava mandando para ele o melhor de mim, uma vontade de dizer-lhe o tanto que eu o amava e a imensidão da minha alegria, minha total incapacidade de dizer-lhe muito obrigado... (página 263- depoimento de Ziraldo)
Dossiê Drummond, mostra o poeta descontraido e tímido, burocrata e metódico,bígamo, brincalhão e apaixonado. Geneton Moraes Neto, finaliza o livro trazendo a bela história de Drummond e Lygia Fernandes um namoro que durou 36 anos e exibe um Carlos Drummond inesperado. Confesso que Dossiê Drummond me emocinou.
Há alguns anos atrás encontrei um amigo fã do poeta mineiro que me disse:"estou lendo um livro sobre Drummond e nele o poeta revela que tinha uma amante de nome Lígia. É um livro muito bom". De fato, essa amante teve um papel muito importante na vida do poeta de "no meio do caminho." Ele quis se separar da esposa mas a amante não concordou. Então continuaram a se encontrar às escondidas quase todas as tardes. O livro não é só isso: Drummond fala da reação da crítica ao seu poema "no meio do caminho". O poeta sofreu muito mas aos poucos foi conquistando a admiração do público leitor até ser considerado um dos maiores poetas brasileiros. É um ótimo livro. Isso que Regina falou de ficar presa à leitura sem conseguir largar o livro. É isso mesmo que senti.
ResponderExcluirSim, Lygia Fernandes e Drummond tiveram uma história bonita por 36 anos...
ResponderExcluirOfereci esse livro no meu grupo de leitura e acho que todos vão gostar.
obrigada pela visita.
Regina