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A Ternura, Álvaro Pacheco


Num domingo sobreposto,
ressuscitarei umas auroras
resistentes de minha carne
e qualquer sensação sobrevivente
da juventude anterior.


São outros tempos, ou apenas
outras circunstâncias, talvez
porque adormeci
e deixei que as pessoas se fossem
e não disse as palavras necessárias,

ou mesmo
porque estou muito cansado
e não sinta mais as coisas
como elas deviam ser, muito ternas
e inocentes — acho

que é terrível envelhecer

muito ruim ser velho
ou apenas viver mais do que os outros,
esquecendo-me, dentro do tempo,
de como era lidar suavemente
com a ternura.

Comentários

  1. sou um dos seus amigos no dihitt , passei em seu cantinha se poder vizite o meu por favor e me siga ok abçs espero vc lah
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