Querem me vender um sítio em Piraí:
" Excelente oportunidade, verdadeira bagatela,
Uma banalidade para terra e alojamento
De boa utilidade. Não é esparrela, nem barbaridade,
Herdade igual a esta, eu mesmo, nunca vi!”
Diz-me o corretor, mostrando-me o croqui,
As fotos, os papéis, o que achou preciso,
Para me convencer a visitar e, quem sabe, comprar
Uma pequena porção, uma quota,
Uma ação, do meu próprio paraíso.
Não sou avessa a uma casa de campo.
Muito pelo contrário. Eu também gostaria
De lá guardar meus amigos e livros.
Mas não me venham com casas modernas,
De madeira ou tijolos, com piscina olímpica,
Churrasqueira e sauna que me cozinhe os miolos.
Campo de futebol, de vôlei e salão de festas.
Porteira fechada com gado leiteiro e pomar de kiwi.
"E já vem com caseiro, cozinheiro e faxineiro!
Que mais a senhora pode querer por aqui?"
Quem pensa que sou? Que quero um clube,
Uma casa de festas, taverna, hospedaria?
"A senhora é perspicaz! Já que tocou no assunto...
Com pouco investimento transformaria este sítio
Num pequeno hotel, num motel, num lugar hospitaleiro
Que poderia ainda lhe dar muito dinheiro!"
Genuíno e autêntico, pensei, mas um grande abacaxi.
Meu canto de repouso tem que ser verdadeiro,
Não pode ser estalagem que abrigue forasteiros,
Desordeiros, estrangeiros como qualquer pardieiro.
A minha casa de campo, meu lugar de reclusão,
Tem que ser de estuque, caiado, sem ostentação,
Com telhas vermelhas e pintura descascada.
Não será um sobrado, mas de um andar só,
Com partes muradas pedindo reparos,
Portão de madeira com dobradiça a chiar,
Escondida de todos, lá no cafundó.
Buganvílias deitadas por cima do muro,
Coqueiros num canto e fruto maduro
Das árvores frutíferas que plantarei no futuro.
O caminho, prefiro ao gosto francês,
De cascalho fininho, de terra e areia.
Diversos cantinhos também pras galinhas,
Duas vacas leiteiras e um gato maltês
Que toque piano e fale português.
Quero um refúgio encantado, bem tropical,
Com o carinho e o gosto da terra natal:
Com oitis, juritis, bem-te-vis, colibris,
Lambaris e caquis, jabutis, sapotis.
Não deixando faltar, certamente, os sacis.
Por que, então, teria voltado pr’aqui?
Teria ficado em qualquer lugar por aí,
Onde não há sambaquis, quatis ou zumbis.
Meu motivo, no entanto, comprometedor,
Não foi racional, só emocional:
Foi querer me cercar do calor tropical
Que só os que o deixam lhe dão valor.
Afinal,
Não há nada melhor que amor com calor.
Bom demais, Ladyce.
ResponderExcluirSe achares dois lugares assim, avise, compro o outro pra mim.
Um grande abraço,
Olá,sou eduardo Proffa,poeta alagoano.Navegando na internet, fiquei muito feliz com o que encontrei.No dia 14 de março de 2008, fizemos um projeto idéntico com os mesmos objetivos e mesmo nome aqui em Maceió-Al.Fiquei super-feliz pela coincidência.
ResponderExcluirGostaria de trocar idéias.
No mais...muita poesia em nossas vidas. Eduardo Proffa
Bom dia poeta, satisfeita de saber que um dia teremos a idéia difundida no país inteiro.
ResponderExcluirPode nos encontrar na comunidade do Orkut:
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=28956097
Por email: livrosemdono@hotmail.com
abraço
L.E