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Mostrando postagens de setembro, 2023

O Enterro de Maria do Cricaré, Antonio Neto

A notícia da morte de Maria do Cricaré se espalhou como fogo no mato seco por toda a São Mateus . Quem não lhe devia um favor, uma bênção, o socorro na hora do parto, uma garrafada ou mesmo sua intervenção direta perante as autoridades? Fosse pobre ou fosse rico, todo cidadão ou cidadã mateense sabia quem era Maria do Cricaré e sabia respeitar a sua presença. Embora fosse muito pobre, parecia ser uma rainha africana. A majestade estava nos seus gestos, na sua voz e nas palavras que saíam da sua boca. Mesmo as famílias mais racistas da elite mateense tratavam aquela mulher singular com o devido respeito.  Agora, com a notícia de sua morte, a cidade estava paralisada. Parecia que o sol interrompera o seu trajeto no céu e que o vento já não soprava. E, temendo que o banzo tomasse conta da população, as autoridades procuraram apressar o enterro da anciã. Procuraram saber da família. Estavam todos espalhados pelo sul da Bahia, norte de Minas e pelos arredores de Vitória. Em São Mateus só ha

Leu Um Livro e Fez Uma Música

Kate Bush , compôs Wuthering Heights inspirada no livro O Morro dos Ventos Uivantes de Emile Bronte.  Single de estréia: Whutering Heights Ano: 1978 Livro: O Morro dos Ventos Uivantes Título original: Wuthering Heights Ano de lançamento: 1847 Autora: Emile Bronte                                                                      Já Regina Spekton fez The Ghost of Corporate  Future , inspirada no livro de Charles Dikens: Um Conto  de Natal. Album: Soviet Kitsch Ano: 2003 Livro: Um Conto de Natal Título original: A Christmas Carol Ano de lançamento:1843 Autor: Charles Dikens E alguém dos Rolling Stones leu e gostou de O Mestre e a Margarida de Mikhail Bulgakov e fez a música Sympathy for The Devil. Álbum:Beggars Banquet Ano: 1968 O Mestre a a Margarida Título original:  Мастер и Маргарита Ano: 1967 Autor: Mikhail Bulgokov  O colega Antonio Neto, me deu a dica de Elton John! Por causa de O Homem Ilustrado, o astro britânico fez Rocket Man. Álbum: Honky Château Ano: 1972 Livro: O Home

Poemas da M.P.B: A Cara do Brasil. Voz: Ney Matogrosso

Eu estava esparramado na rede Jeca urbanóide de papo pro ar Me bateu a pergunta, meio à esmo Na verdade, o Brasil o que será? O Brasil é o homem que tem sede Ou quem vive da seca do sertão? Ou será que o Brasil dos dois é o mesmo O que vai é o que vem na contramão? O Brasil é um caboclo sem dinheiro Procurando o doutor nalgum lugar Ou será o professor Darcy Ribeiro Que fugiu do hospital pra se tratar A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho Ninguém precisa consertar Se não der certo a gente se virar sozinho Decerto então nada vai dar A gente é torto igual Garrincha e Aleijadinho Ninguém precisa consertar Se não der certo a gente se virar sozinho Decerto então nada vai dar O Brasil é o que tem talher de prata Ou aquele que só come com a mão? Ou será que o Brasil é o que não come O Brasil gordo na contradição? O Brasil que bate tambor de lata Ou que bate carteira na estação? O Brasil é o lixo que consome Ou tem nele o maná da criação? Brasil Mauro Silva, Dunga e Zinho Que é o Brasil

O Embondeiro Que Sonhava Pássaros, Mia Couto

Pássaros, todos os que no chão desconhecem morada. Esse homem sempre vai ficar de sombra: nenhuma memória será bastante para lhe salvar do escuro. Em verdade, seu astro não era o Sol. Nem seu país não era a vida.  Talvez, por razão disso, ele habitasse com cautela de um estranho. O vendedor de pássaros não tinha sequer o abrigo de um nome. Chamavam-lhe o passarinheiro. Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos carregando suas enormes gaiolas.  Ele mesmo fabricava aquelas jaulas, de tão leve material que nem pareciam servir de prisão. Parecia eram gaiolas aladas, voláteis. Dentro delas, os pássaros esvoavam suas cores repentinas.  À volta do vendedeiro, era uma nuvem de pios, tantos que faziam mexer as janelas: - Mãe, olha o homem dos passarinheiros! E os meninos inundavam as ruas.  As alegrias se intercambiavam: a gritaria das aves e o chilreio das crianças.  O homem puxava de uma muska (Muska - nome que, em chissena, se dá à gaita-de-beiços.) e harmonicava sonâmbulas melodias. 

Os Supridores, José Falero

     Procurando novos autores encontrei José Falero  e seu livro Os Supridores . Nunca tinha ouvido falar dele. Por curiosidade procurei saber quem era o autor do livro indicado no clube de leitura de minha filha. Procurávamos autores da Região Sul e José Falero é gaucho!! Li o livro e gostei.    Pedro e Marques são dois homens, como tantos, da periferia de Porto Alegre.  Trabalham como supridores* num supermercado.       Pedro é um pouco diferente: gosta de ler e faz isso diariamente nos ônibus que toma pra ir e vir do trabalho. Passou toda sua vida lendo, por isso é mais crítico e questionador. Realista, sabe o quão difícil é ascender socialmente sem já ter um pouco mais de dinheiro para morar, comer, vestir melhor. Consciente da injustiça de não poder ter esperança de sair da pobreza, Pedro decide "empreender":  traficar maconha. Somente maconha.Ingenuamente acredita em ficar traficar o suficiente para comprar uma casa bem construida, móveis roupas. Ter, afinal, uma vida m

O Burro, O Tigre e a Grama Azul (Fábula)

Um burro diz a um tigre que a erva é azul! "Não" retorque o tigre, "é verde"! A troca de ideias fica azeda e resolvem recorrer ao Rei Leão para arbitrar a disputa. Bem antes de chegarem à clareira onde o leão descansava, o burro põe-se a gritar - " Vossa Majestade, a erva é azul, não é azul, a erva, Majestade?" O leão responde-lhe: - Sim, a erva é azul! Diz então o burro: "Majestade, o tigre não está de acordo comigo e isso aborrece-me, que castigo lhe darás?" - O tigre será punido com cinco anos de silêncio, diz então o leão, Rei da Selva. O burro regozija e, saltando de contentamento, continua o seu caminho repetindo incansavelmente: " a erva é azul, a erva é azul..." O tigre aceita a punição, mas pergunta ao leão: "Vossa Alteza porque me pune? Não é verde a erva, afinal?" Diz-lhe o leão: - Efetivamente é verde, a erva. "Porque me punis então?" pergunta o tigre. Explica o leão: - Isso não tem nada a ver com a ques

Os Karas, de Pedro Bandeira, breve nos cinemas.

 A Scriptonita Films e a Conspiração se uniram ao escritor  Pedro Bandeira  para a produção de séries e longas-metragens baseadas na série de livros mega-seller  Os Karas . Composta por seis livros*, as aventuras de Miguel, Cadú, Magri, Crânio e Chumbinho serão adaptadas pelos criadores Luca Paiva Mello e André Catarinacho, da Scriptonita, com produção executiva de Juliana Capelini e Renata Brandão, pela Conspiração. A primeira obra audiovisual prevista para chegar ao público é uma série de ficção adaptada a partir do livro inaugural de Os Karas:  A Droga da Obediência , sucesso editorial com mais de 7 milhões de exemplares vendidos que segue conquistando gerações desde o seu lançamento, em 1984.  ( Estadão) A droga da Obediência , foi o único livro de Pedro Bandeira que eu li. Conheci o autor numa noite de autógrafos na saudosa Livraria Cultura do Recife Antigo. Um vovô muito fofo, deu show de simpatia, paciência e vitalidade atendendo uma fila interminável de adolescentes e mães. Saí

Recolha, Branca do Sacramento Rodrigues

Sei um saco de cantigas, Ainda mais um guardanapo. Quem quer vir ao desafio, Venha, que eu desato o saco Cantigas ao desafio, Comigo ninguém as cante. Tenho quem mas ensine; O meu amor é estudante O meu amor e o teu, Andam ambos na ribeira. O meu, anda à erva cidra, O teu, à erva-cidreira. Não olhes para mim, não olhes, Que eu não sou o teu amor. Eu não sou como a figueira, Que dá fruto sem dar flor. Aqui estou à tua porta. Como um feixe de lenha! A espera da resposta, Que da tua boca me venha. MaIo haja o grão-de-bico, E mais o feijão guisado. MaIo hajam esses olhos, Que tanto são do meu agrado! Tenho na minha janela Tulipas até ao chão. Quando te vejo falar com outra, São facadas que me dão. Não me namora teu ouro, Nem os brincos das orelhas. Namoram-me esses teus olhos, Por baixo das sobrancelhas. Lá te mandei um raminho De cravos e cravelinas, Por não te poder mandar Dos meus olhos as meninas Tenho dentro do meu peito Um ramo de violetas O dia que te não vejo, De roxas, tornam-se p

Balaio de Gatos, Elizabete Bárbara

- Mãe. - Sim. - Conta-me uma história antes de dormir. - Então escuta. Era uma vez uma biblioteca que fazia anos. Estava, portanto, cada vez mais nova. - Cada vez mais nova, mãe? - Sim, com as bibliotecas é assim. Quanto mais tempo vivem, mais novas se tornam. - Porquê? - Porque quantos mais livros têm, menos sozinhas estão. A solidão envelhece. Quanto mais histórias contam, mais palavras aprendem. Aprender rejuvenesce. Cada sorriso a mais é uma ruga a menos. Cada página folheada é uma lufada de ar fresco. Cada final feliz é a chave do início. Em cada adulto que lê está a criança que foi. Em cada criança que lê está o adulto com memória. É assim a vida, passo a passo, folha a folha, história a história. - E as bibliotecas, quando fazem anos, não fazem uma festa? - Claro que sim. Fazem uma festa dentro do coração dos leitores. Os livros juntam-se nas prateleiras e também nas mesas e nas cadeiras e há magia por todo o lado. Saem as fadas dos seus recantos e os segredos dos seus cantos e

Ai Margarida, Álvaro de Campos

Ai, Margarida, Se eu te desse a minha vida, Que farias tu com ela? — Tirava os brincos do prego, Casava c'um homem cego E ia morar para a Estrela. Mas, Margarida, Se eu te desse a minha vida, Que diria tua mãe? — (Ela conhece-me a fundo.) Que há muito parvo no mundo, E que eras parvo também. E, Margarida, Se eu te desse a minha vida No sentido de morrer? — Eu iria ao teu enterro, Mas achava que era um erro Querer amar sem viver. Mas, Margarida, Se este dar-te a minha vida Não fosse senão poesia? — Então, filho, nada feito. Fica tudo sem efeito. Nesta casa não se fia. Comunicado pelo Engenheiro Naval Sr. Álvaro de Campos em estado de inconsciência alcoólica. 1-10-1927 Fernando Pessoa, Álvaro de Campos - Livro de Versos