Por muitos anos, Moacyr Scliar escreveu na folha de São Paulo. A partir de uma manchete real publicada no citado jornal, o escritor criava um conto. O texto abaixo, com a manchete em que se baseou, é um exemplo. “Sem destino: 102,2 mil desapareceram em 6 meses. ” Cotidiano, 10 jul. 1999 Uma vez ao ano os desaparecidos se reúnem. Sempre em data diferente e em local diferente: às margens de um grande rio, no meio da floresta, no alto de uma montanha. Ninguém falta. Por certos mecanismos de comunicação, do qual só os desaparecidos têm conhecimento, a notícia chega a todos e a cada um deles. No dia aprazado lá estão. Usam máscaras, naturalmente. Alguns – precaução adicional – colocam vendas sobre os olhos: não querem ver os rostos, mesmos disfarçados, dos outros desaparecidos. O encontro é, sobretudo, de trabalho. Para isso, os desaparecidos são divididos em comissões temáticas, que têm como objetivo responder a perguntas cruciais: é lícito desaparecer quando há uma cris