Às vezes, o pensamento me vem, como agora. é como se todos os instantes em que vivi tivessem deixado uma profunda marca sobre as múltiplas facetas do meu ser. Estou ao largo da madrugada. Chego à janela aberta. O primeiro plano da paisagem é a rua asfaltada, cortada por trilhos brilhantes e polidos pelo uso. O segundo plano é um pequeno morro salpicado de casebres. Sobre todas essas coisas um imenso e profundo céu, e o silêncio. Se eu pudesse alcançar o cume da mais alta montanha do universo e varrer com o olhar toda a extensão do globo terrestre, veria que a única coisa que existe é a solidão. As portas do meu ser, lentamente, se abrem e despejam na imobilidade da noite todas as imagens que participaram dos meus erros e dos meus acertos ocasionais. Elas se levantam impiedosas, confabulam, discutem a minha pessoa humana, apalpam as minhas carnes sofrias, fazem perguntas irrespondíveis e depois largam-me desunida de mim mesma. Num trágico sentido de matéria desprezível,