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História Bonita: Primeiro Colocado no Exame da OAB PE foi catador de recicláveis.

 “Minha mãe não sabe ler, nem escrever, mas desde que eu era pequeno, ela sempre falou para a gente
que a única coisa que iria mudar a nossa vida eram os estudos”. O advogado Walter Marinho dos Reis, de 34 anos, sempre foi incentivado pela sua mãe, Severina de Souza Marinho, a 
seguir o caminho dos estudos. No dia 11 de julho, Walter foi homenageado por ter passado em primeiro lugar no exame 31 da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB). 


Para conseguir ingressar na faculdade de direito, Walter passou por dificuldades e precisou trabalhar em várias áreas durante a sua vida. Por volta dos 11 anos, o advogado precisou catar recicláveis para ajudar nas despesas de casa. Com isso, o tempo para os estudos foi se tornando cada vez mais curto. Aos 18 anos, ele foi selecionado para ser soldado do Exército, porém, não conseguiu conciliar o exercício com a escola. Após esse período, trabalhou como vigilante e antes de começar a faculdade, foi sargento do Exército.

“Depois de entrar no Exército como soldado fiz um supletivo para terminar os estudos e arrumar um emprego, minha pretensão era sair do quartel e arrumar algo na vigilância e depois que fiz alguns cursos, entrei na área, passei cinco anos na empresa, mas nesse período sofri um assalto à carro-forte. Devido a essa situação, resolvi me afastar e decidi que aquilo não era o que eu queria. Fui chamado para ser sargento do Exército e devido às dificuldades que passei dentro da instituição me deu vontade de fazer direito”, destacou Walter.

Segundo Walter, a noiva e a mãe sempre foram grandes incentivadoras para ele começar a graduação em direito. Ele estudou toda a vida em escola pública, e ingressou numa faculdade particular para realizar o sonho de se tornar advogado. Durante o curso, acumulou dívidas, mas isso não o impediu de concluir a graduação.

Durante a rotina exaustiva no período da faculdade, Walter estudava na mesa de costura que ficava no terraço da casa de sua mãe.

“Várias vezes eu ficava dormindo na cadeira, em cima da máquina de costura, era tanta sobrecarga de estudos, mas a força de vontade de querer alcançar aquele objetivo era maior. Minha mãe vinha com uma xícara de café, o incentivo que ela me dava era bater com o café no meu ombro, eu acordava, tomava o café e isso me dava gás para continuar”, disse Walter.

A mãe de Walter, Severina, de 68 anos, chegou ao Recife com 14 anos para trabalhar como empregada doméstica. Ela nasceu em Surubim, no Agreste de Pernambuco. Há 35 anos ela mora no bairro da Iputinga, na zona oeste do Recife. Mãe de cinco filhos, Walter é o caçula da família.

“Eu nunca tive estudo e eu não queria que ele seguisse o meu caminho, aí eu sempre dava em cima para ele terminar os estudos. Sempre estava incentivando, e dizia que se você não estuda, é ‘cego’, feito eu, eu sou uma pessoa que não sei fazer o nome, não sei ler”, destacou Severina.

Matéria de Tarsila Castro para a Folha de Pernambuco - 21/7/22

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