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Mostrando postagens de julho, 2022

Dona Doida, Adélia Prado

Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora. Quando se pôde abrir as janelas, as poças tremiam com os últimos pingos. Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema, decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos. Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, trinta anos depois. Não encontrei minha mãe. A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha, com sombrinha infantil e coxas à mostra. Meus filhos me repudiaram envergonhados, meu marido ficou triste até a morte, eu fiquei doida no encalço. Só melhoro quando chove.

História Bonita: Primeiro Colocado no Exame da OAB PE foi catador de recicláveis.

  “Minha mãe não sabe ler, nem escrever, mas desde que eu era pequeno, ela sempre falou para a gente que a única coisa que iria mudar a nossa vida eram os estudos”. O advogado Walter Marinho dos Reis, de 34 anos, sempre foi incentivado pela sua mãe, Severina de Souza Marinho, a  seguir o caminho dos estudos . No dia 11 de julho, Walter foi  homenageado por ter passado em primeiro lugar  no exame 31 da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB).  Para conseguir ingressar na faculdade de direito, Walter passou por dificuldades e precisou trabalhar em várias áreas durante a sua vida. Por volta dos 11 anos, o advogado precisou catar recicláveis para ajudar nas despesas de casa. Com isso, o tempo para os estudos foi se tornando cada vez mais curto. Aos 18 anos, ele foi selecionado para ser soldado do Exército, porém, não conseguiu conciliar o exercício com a escola. Após esse período, trabalhou como vigilante e antes de começar a faculdade, foi sargento do Exército. “Depois de entra

Guerra dos Palhaços, Mia Couto

Um vez dois palhaços se puseram a discutir. As pessoas paravam, divertidas, a vê-los. — É o quê?, perguntavam — Ora, são apenas dois palhaços discutindo. Quem os podia levar a sério? Ridículos, os dois cómicos ripostavam. Os argumentos eram simples disparates, o tema era uma ninharice. E passou-se um inteiro dia. Na manhã seguinte, os dois permaneciam, excessivos e excedendo-se. Parecia que, entre eles, se azedava a mandioca. Na via pública, no entanto, os presentes se alegravam com a mascarada. Os bobos foram agravando os insultos, em afiadas e afinadas maldades. Acreditando tratar-se de um espetáculo, os transeuntes deixavam moedinhas no passeio. No terceiro dia, porém, os palhaços chegavam a vias de facto. As chapadas se desajeitavam, os pontapés zumbiam mais no ar que nos corpos. A miudagem se divertia, imitando os golpes dos saltimbancos. E riam-se dos disparatados, os corpos em si mesmos se tropeçando. E os meninos queriam retribuir a gostosa bondade dos palhaços. — Pai, me dê as

A Verdadeira História do Jogo de Futebol Que Envergonhou Os Nazistas, El País

  Pepe Gálvez e Guillem Escriche contam na HQ ‘A partida da morte’ a história real do jogo em que prisioneiros ucranianos derrotaram soldados alemães, recriada no filme ‘Fuga para a vitória’, que teve Pelé como ator. No álbum em quadrinhos   El partido de la muerte  (“A partida da morte)”, inédito no Brasil), o roteirista Pepe Gálvez e o desenhista Guillem Escriche descrevem uma história real de heroísmo frente à barbárie. Em 9 de agosto de 1942, em Kiev, disputou-se um jogo de futebol que fez murchar o sorriso hierático dos ocupantes nazistas. Dentro de campo eram 11 contra 11, mas a diferença de circunstâncias entre os dois times era enorme. A equipe local era formada por jogadores desnutridos, com profundas cicatrizes pela repressão, quase sem tempo de preparação e com o ódio de uma invasão genocida no seu cangote. Como diz uma das protagonistas da históra, eram “os restos de uma derrota”. Já a equipe visitante era um combinado preparado pela Luftwaffe com o único objetivo de vence

O Nome dos Gatos,T.S. Eliot

Dar nome aos gatos é um assunto traiçoeiro, E não um jogo que entretenha os indolentes; Pode julgar-me louco como o chapeleiro, Mas a um gato se dá TRÊS NOMES DIFERENTES. Primeiro, o nome por que o chamam diariamente, Como Pedro, Augusto, Belarmino ou Tomás Como Victor ou Jonas, Jorge ou Clemente – Enfim nomes discretos e bastante usuais. Há mesmo os que supomos soar com som mais brando, Uns para damas, outro para cavalheiros, Como Platão, Admetus, Electra, Demétrio Mas são todos discretos e assaz corriqueiros Mas a um gato cabe dar um nome especial Um que lhe seja próprio e menos correntio: Se não como manter a cauda em vertical, Distender os bigodes e afagar o brio? Dos nomes desta espécie é bem restrito o quorum, Como Quaxo, Munkunstrap ou Coricopato, Como Bombalurina, ou mesmo Jellylorum… Nomes que nunca pertencem a mais de um gato. Mas, acima e além, há um nome que ainda resta, Este de que jamais ninguém cogitaria, O nome que nenhuma ciência exata atesta SOMENTE O GATO SABE, mas n

Quino, pai de Mafalda, 90 anos

 O pai de Mafalda se chamava: Joaquín Salvador Lavado Tejón.  Era da cidade de Guaymallén, na Argentina.  Era pensador, historiador, gráfico e cartunista.  Criou e desenhou Mafalda. Essa pequena criança de 6 anos inteligente e humanista, odiava sopa e adorava os Beatles e o desenho do Pica-pau.  Quino, faria 90 anos hoje, 17 de julho. Já não está mais conosco, mas ninguém esqueceu dele nem de Mafalda. Joaquín Salvador, Quino, foi homenageado através de sua formidável filha  em alguns lugares Estátua de Mafalda e os amigos Manolito e Susanita: Em Buenos Aires, rua Chile 371 esquina com a rua Defensa. Era nesse endereço que morava o cartunista Quino. Há na entrada do prédio placa indicativa de que ali mora Mafalda. (Escultura de Pablo Irrgang).  Placa indicativa da pensadora infantil conhecida e querida  de todos. Fica na entrada do prédio onde Quino viveu em Buenos Aires e onde criou suas formidáveis tirinhas, das quais gostamos tanto até hoje. (Fonte: Turista profissional ) Museu do Hu

A Porta, Magda Szabó - resenha de Angelica Lino para a Revista Bula

Enquanto folheava o catálogo de clássicos esquecidos de uma pequena editora em Paris, o editor italiano Roberto  Calasso (1941-2021) encontrou um nome do qual jamais se esqueceria. Ele começou a ler o romance “Rebeldes’’ e percebeu que estava diante daquelas descobertas raras, a grande sorte dos editores. Após 50 anos de vácuo editorial, o autor húngaro Sándor Márai foi colocado no seu devido lugar, ao lado de Joseph Roth, Musil, Thomas Mann e Kafka. A chegada no Brasil do romance “A Porta’’ (Intrínseca, 256 páginas), da escritora húngara Magda Szabó também tem a luz de um grande acontecimento. Publicado em 1987, na Hungria, o livro só alcançou o lugar de destaque internacional após ser traduzido para o inglês em 2005 e entrar, dez anos depois, na lista dos Melhores Livros de 2015 do “The New York Times”. “É surpreendente que esta obra prima tenha sido essencialmente desconhecida para os leitores de língua inglesa por tanto tempo. . . basta dizer que fui assombrado por este romance. Al

Mais Vendidos da Bienal de São Paulo 2022

 O blog de literatura Babel, do Estadão acompanhou a última Bienal do Livro de São Paulo.  Pela pesquisa do blog, junto às editoras presentes no evento, ficou confirmada que os jovens são principalmente para o público da bienal.   A lista dos mais vendidos deste ano evidencia  a bisca por livros do universo LGBT, fantasias e romances para jovens leitores que abordam questões como machismo e violência física e psicológica. (Estadão 11/7.22) Vamos conferir quais foram os livros mais vendidos? ( não é um ranking) É Assim que Acaba , Collen Hoover (Record) Box Collen Hover (com os livros: É Assim Que Acaba; Novembro, 9 e Tarde Demais, Colleen Hooover (Record) Eu Beijei Shara Wheeler, Casey McQuinton (Cia das Letras) O Priorado da Laranjeira : A Maga , Samantha Shannon (V&G) Em Águas Profundas , F.T Lukens ( Faro Editorial) A Noiva do Deus do Mar , Oxie Oh (Melhoramentos) O Diário de Uma Princesa Desastrada , Maidy Lacerda (Planeta) Manual de Assassinato Para Boas Garotas , Holly Ja

Gigante, Marcelo Valença

Vamos salvar o mundo Pulando de galho em galho Minerar o barro com as mãos Honrando cada pedaço de chão Sobre o tronco que resiste à lava para explorar diamantes de granito Vamos bolar picaretas de madeira e explosivos teleguiados Medindo a empreitada no olhar Queremos as rochas cintilantes Não por que são raras Ou caras Só por que são belas Vamos ver Em cada ser vivo Seu brilho Em todo o teu riso Meu espelho Em cada tua pequeneza Nossa grandeza No Instagran: In.voluntaria

Volta a Pernambuco, João Cabral de Melo Neto

     Em 1952 durante a ação de caça às bruxas no governo Vargas, João Cabral e mais quatro colegas foram acusados de subversão, graças a um "amigo" que, remexendo nas gavetas de seu escritório, encontrou o rascunho de uma carta dirigida a um deles.  Nessa carta, meu pai pedia um artigo sobre a disputa pelo mercado brasileiro entre os ingleses, alemães  e japoneses. Esse documento foi entregue pelo "amigo" que o subtraiu ao Itamaraty e acabou nas mãos de Carlos Lacerda, que o publicou em matéria de capa na  Tribuna de Imprensa, no dia 27  de junho do mesmo ano. entre outras barbaridades, o jornal afirmava:   a tipografia passou a servir para imprimir boletins de seus novos "amigos". Valéry já lhe parece uma expressão da burguesia decadente. E quando Moscou pela boca de Aragon, mandou adorar Victor Hugo, ele passou a considerar Victor Hugo seu mestre, o seu modelo. Seus versos estão agora repletos de alusões, são panfletários, ardentes e, por sinal, ruins.  

Dia do Beijo: poemas de Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade

  ❝ Esta noite Os teus beijos ardentes, Teus afagos mais veementes, Guarda, guarda-os, anjo meu; Esta noite entre mil flores, Um sonho todo de amores Nos dará de amor um céu! “ Machado de Assis, no livro “Toda poesia de Machado de Assis” Beijo-Flor Carlos Drummond de Andrade O beijo é flor no canteiro ou desejo na boca? Tanto beijo nascendo e colhido na calma do jardim nenhum beijo beijado (como beijar o beijo?) Na boca das meninas e é lá que eles estão suspensos invisíveis. Nota: Encontrei duas datas para o beijo: 13 de abril e 6 de julho. Não encontrei explicação para nenhuma delas.

O Que Aprendi Em: Amor e Memória livro de Ayelet Waldman

Cada livro lido gera uma série de anotações para onde depois volto e analiso. Procuro no mapa as cidades citadas, palavras novas ou noutro idioma, rituais, objetos, pessoas citadas, fatos... cada livro me deixa um aprendizado além do prazer da leitura em si. É como um bônus. Considerando assim, achei por bem compartilhar aqui no blog os "bônus"  que recebi de cada livro.  Começo com: Amor de Memória , Ayelet Waldman Ed. Casa da Palavra - 2014 Um deslumbrante medalhão e três homens: um capitão de infantaria americano; um israelense negociador de obras de arte roubadas pelos nazistas; um psiquiatra pioneiro de Budapeste do fim do século XIX. Suas vidas pacatas são viradas de cabeça para baixo por três mulheres fortes e independentes. Uma história de personagens brilhantes,  Amor e memória  é um belíssimo romance de Ayelet Waldman: uma obra ricamente detalhada que levanta questões difíceis sobre o valor das coisas preciosas num momento em que a própria vida parece sem valor, e s