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Minhas Leituras 2022.1

 

Dora, Doralina by Rachel de Queiroz
Uma Noite, Markovitch by Ayelet Gundar-Goshen
really liked it
As sinhás pretas da Bahia by Antonio Risério
Arrancados da terra by Lira Neto
O inferno atrás da pia by Antonio Prata
Paixão Pagu by Patrícia Galvão
Rashômon e Outros Contos by Ryūnosuke Akutagawa
É Agora Como Nunca by Adriana Calcanhotto
Istambul by Orhan Pamuk
Deserto by Luis S. Krausz
Cidades e Soluções by André Trigueiro
Adulterado by Antonio Prata
really liked it
Contos de Odessa by Isaac Babel

Dora, Doralina, Rachel de Queiroz:  Dôra, Doralina narra a história de Maria das Dores, viúva recente de um casamento de conveniência, que sai da sombra da mãe e de uma vida de submissão para viver em Fortaleza. Na capital do Ceará, Dôra torna-se atriz e passa a viajar pelo Brasil como integrante da trupe de uma Cia de teatro mambembe. Em determinada viagem conhece o Comandante, homem que desperta seu amor mais profundo e com quem se muda para Rio de Janeiro, abandonando o teatro. Após sua experiência com o amor que poucos têm coragem de viver, Dôra retorna para sua cidade natal, fechando o ciclo de vivências que a transformaram em outra mulher.

Dôra, Doralina, obra que marca a retomada de Rachel de Queiroz ao gênero romance, pode ser lido como expressão da emancipação feminina, na qual Dôra sai da condição de mulher submissa para conquistar a liberdade de ser o que desejar e levar a vida que quiser. Personagem fascinante, ela é um dos perfis femininos mais intensos da literatura brasileira.

As Sinhás Pretas da Bahia, suas escravas, suas joias, Antonio Risério: Mulheres negras e mestiças de um modo geral – algumas africanas, outras já brasileiras – conseguiram o que parecia impossível numa sociedade escravista como a nossa: ganharam dinheiro, compraram sua liberdade e, já ricas, passaram a investir em escravos, imóveis e joias. Recebiam o respeitoso tratamento de Dona nas principais cidades do Brasil colonial e imperial, a exemplo de Salvador, do Rio de Janeiro e dos núcleos barrocos de Minas Gerais. Algumas delas estão na própria origem do candomblé brasileiro: escravas que se tornaram senhoras de escravos – como Iyá Nassô, Marcelina Obatossí, Otampê Ojaró – criaram os hoje famosos terreiros do candomblé jeje-nagô do Brasil, como a Casa Branca do Engenho Velho, o Gantois e o Alaketu. Processo fascinante que é o tema do novo ensaio do antropólogo baiano Antonio Risério, marcado pela riqueza de dados e de análises, e mesmo, nas palavras do historiador Manolo Florentino, que assina a apresentação, pela originalidade teórica. Aqui podemos acompanhar os lances fundamentais da trajetória dessas negras escravistas, que não só conquistaram sua liberdade como, em alguns casos, lideraram ações político-religiosas que enriqueceram em profundidade a vida e a cultura brasileiras. 

Uma Noite Markovitch, Aylet Gundar-goshen: Às vésperas da Segunda Guerra, um grupo de jovens parte da Palestina para a Europa. Do outro lado do mar, um grupo de jovens judias que nunca conheceram os esperam. O objetivo: casamentos fictícios com os quais as meninas poderão escapar da Europa sob Hitler e alcançar a futura pátria judaica, então sob o domínio britânico. Dois dos jovens são amigos íntimos, mas muito diferentes um do outro. Zeev Feinberg, um sujeito ousado, alto e musculoso, tem um belo bigode e está acostumado a ter mulheres caídas a seus pés. O outro, Iaakov Markovitch, é um cara indescritível e monótono sem qualquer tipo de carisma: nenhuma mulher já olhou para ele. No entanto, é Markovitch quem fica com a mulher mais bonita, a deslumbrante Bella Zeigerman. Contra o pano de fundo da guerra na Europa e a Guerra de Independência de Israel, com o enredo indo e vindo entre os pequenos indivíduos e os grandes eventos que os rodeiam, tudo isso num andamento ágil e mítico, o colorido romance de estreia de Gundar-Goshen reconta eventos do século XX de forma divertida e ilustrada.

Arrancados da Terra, Lira Neto:Em setembro de 1654, um grupo de 23 refugiados desembarcou em Nova Amsterdam, colônia holandesa na costa oriental da América do Norte. Eram homens e mulheres, adultos e crianças, possivelmente sobreviventes de uma odisseia iniciada meses antes nas praias de Pernambuco. Exaustos, esfarrapados e sem dinheiro, fugiam da Inquisição, reavivada nas capitanias do Nordeste depois da vitória luso-brasileira na guerra contra a ocupação holandesa.

Os primeiros judeus da ilha de Manhattan, assim como seus parentes e antepassados sefarditas ibéricos, enfrentaram uma sucessão dramática de dificuldades e privações até encontrar a terra prometida no Novo Mundo. Seguindo a trilha de religiosos e intelectuais ilustres, mas também de lavradores e mascates quase anônimos, Lira Neto conta sua incrível saga de fé, resistência e esplendor cultural, e faz assim também uma história narrativa e colorida da ocupação holandesa do Nordeste. Com prosa fluida e rigor histórico, o autor da trilogia Getúlio entrelaça as biografias desses judeus pioneiros à crônica de grandes acontecimentos que ajudaram a moldar o Brasil e a América.

“Uma narrativa fluente e erudita que resgata da ignorância de quase todos e do esquecimento de uns poucos a saga seiscentista do grupo de judeus de origem portuguesa que singrou de Amsterdam ao Recife e de lá à futura Nova York, abraçando os dois Atlânticos.” ― Evaldo Cabral de Mello


O Inferno Atrás da Pia, Antonio Prata: crônicas leves e divertidas. Considero Antonio Prata o melhor cronista brasileiro da atualidade. 


Paixão Pagu: Como toda lenda Pagu não morre. Mexe com a gente e surpreende. Mas nunca como neste 'Paixão Pagu' seu único texto autobiográfico inédito desde que ela o escreveu em 1940 recém-saída da última das suas 23 prisões como inimiga política número um da ditadura de Getúlio Vargas.Esta obra não é uma autobiografia convencional. Uma mulher como Patrícia Galvão ao mesmo tempo inquieta e reservada nunca escreveria memórias corriqueiras. O livro é uma longa carta que ela escreveu como um depoimento-entrega ao homem que ela amava o escritor jornalista e crítico Geraldo Ferraz. O texto mostra Pagu nua sem subterfúgios corajosa e sincera. Ela revela desde sua vida sexual iniciada precocemente até os altos e baixos do seu casamento com Oswaldo de Andrade que deixou Tarsila do Amaral pela normalista de 19 anos. Da sua militância política no Partido Comunista iniciada pela mão de Luís Carlos Prestes ao desencanto com o regime soviético incapaz de evitar seu encontro com uma menininha que pedia esmolas na Praça Vermelha ao lado do túmulo de Lênin.  (Amazon).


Rashômon e outros contos, Akutagawa:O livro traz dez contos do grande expoente do conto moderno japonês, publicados entre 1915 e 1927. Rashômon e Dentro do bosque, retratam a cultura de Heian (atual Quioto), enquanto outros temas explorados por Akutagawa são os antigos costumes japoneses, a ética cristã e a loucura ( Memorando Ryôsai Ogata, Ogin, O mártir ). Já Devoção à literatura popular e Terra morta têm como fundo a cultura de Edo (atual Tóquio). Por fim, dois contos de caráter autobiográfico, do final da vida de Akutagawa: Passagens do caderno de notas de Yasukichi e A vida de um idiota. Esta nova edição, com texto revisto pelas tradutoras, conta ainda com nova introdução e acréscimo de notas. (Amazon)


Istambul, Ohram Pamuk:Istambul - antiga Constantinopla, sede do Império Bizantino - é uma cidade encravada no meio do grande dilema que se apresenta para a humanidade neste início de século: o encontro entre Ocidente e Oriente. A secularização promovida por Atatürk - herói nacional e fundador da Turquia moderna, em 1923 - baniu as roupas típicas, coibiu costumes milenares e transformou progressivamente o panorama local. Para Orhan Pamuk, que nasceu e passou toda a sua vida na cidade, embora os habitantes tenham cumprido as novas regras, no espírito do povo turco essa operação nunca se completou. Entre a modernização crescente e o apego ao passado, entre ter sido um império e conhecer a decadência, criou-se nos habitantes um sentimento de melancolia que permeia toda a cidade, e também este livro. O centro de tudo é o Edifício Pamuk, construção que no início da década de 50 abrigava, espalhada em seus andares, toda a família do autor. Circulando pelos corredores do edifício, o pequeno Orhan tenta dar sentido a coisas que vê mas não entende por completo: as ausências do pai, as fotografias espalhadas pela avó, o indefectível piano que todos seus parentes têm nas casas, mas que nunca tocam. Conforme cresce, ele ganha as ruas, em longos e solitários passeios, e começa a se impregnar dessa tristeza coletiva que assombra a cidade. Mas, ao mesmo tempo em que de certo modo o oprime, Istambul fornece a ele um repertório de imagens - as casas na beira do Bósforo, os incêndios das mansões dos paxás, as enciclopédias de curiosidades compradas em sebos - que para ele ganham enorme força simbólica, e que estarão sempre presentes em sua obra. (Amazon)


Deserto, Luís S Krausz:Na década de 1970, um grupo de adolescentes brasileiros vai a Israel para ajudar na colheita de frutas cítricas e aprender a história do país. Eles dispõem de alguns dias de folga, mas estão proibidos de viajar à Europa, onde um judeu ingênuo poderia ceder às tentações burguesas e se desviar do caminho do sionismo. Um deles transgride a interdição e vai para Londres. Com esse enredo, Luis S. Krausz tece a fascinante história de famílias de judeus russos e do Império Austro-Húngaro, dispersas após a Primeira Guerra e o início do nazismo. Nas suas andanças, o jovem parece reatar os laços entre parentes de Israel, Inglaterra e Brasil. Mas ele sabe que o tempo, a distância e o esquecimento desfizeram esses laços para sempre. O fascínio do narrador pela cultura austríaco-alemã não o impede de referir o Holocausto, num contraponto sombrio às suas exaltações da Europa Central. Não é possível esquecer que os homens dessa Europa admirável, que produziram a filosofia e a arte mais sublime, também enlouqueceram e retornaram à barbárie, levando o mundo à destruição e ao horror. Lemos Deserto desejando que o livro não termine. A prosa de Luis S. Krausz é fluente, clara, com longos períodos proustianos, citações e ensaios. Ronaldo Correia de Brito (Amazon)


Cidades e Soluções, André Trigueiro:Discutir as cidades para salvar o planeta! A maior parte da população mundial vive hoje nas cidades – essas aglomerações de pessoas e concreto em que sobram problemas e falta planejamento. A urbanização desordenada traz inúmeros desafios e uma certeza: não há solução para a humanidade que não passe necessariamente pela transformação das cidades. Escrito por André Trigueiro, jornalista especializado em gestão ambiental e sustentabilidade, Cidades e Soluções: como construir uma sociedade sustentável é um livro fundamental para o debate sobre o que precisa mudar para assegurar a sobrevivência do planeta. No ar desde 2007 pelo canal por assinatura GloboNews, o programa de TV homônimo se dedica a apresentar experiências capazes de melhorar a qualidade de vida dos habitantes das cidades por meio do uso inteligente e sustentável dos recursos naturais. O acervo acumulado nos dez anos da atração inspirou a realização desta obra, que expande o conteúdo da TV ao oferecer dados, informações e abordagens inéditos. Dividido em nove grandes temas, o livro é construído com textos curtos e objetivos voltados aos públicos mais variados. Ao fim de cada capítulo, Trigueiro apresenta um resumo de entrevistas com personalidades de influência internacional, como Noam Chomsky, Al Gore, Jeffrey Sachs, Vandana Shiva, Muhammad Yunus e Achim Steiner, entre outros. Há também a seção “Ecodicas”, que traz sugestões sustentáveis de fácil aplicação no dia a dia. O recado é claro: ou corrigimos o rumo, ou pereceremos. Nesse cenário, Cidades e Soluções é uma obra relevante e necessária. Mais do que isso, expõe que é nos tempos de crise, como a que vivemos hoje no Brasil, que a busca por alternativas se torna ainda mais urgente e valiosa, reforçando o poder dos bons exemplos e sua capacidade de disseminação. André Trigueiro é jornalista com pós-graduação em gestão ambiental pela COPPE/UFRJ (onde leciona a disciplina geopolítica ambiental), professor e criador do curso de jornalismo ambiental da PUC-Rio. É editor-chefe do Cidades e Soluções, da GloboNews, e repórter da Rede Globo. Atua ainda como comentarista da rádio CBN, colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro e da Rádio Boa Nova, articulista da Folha de S.Paulo e do portal G1. (Amazon)







Fontes: Amazon, Goodreads,


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