- Para que furtaria eu esse osso - alegou ela - se
sou herbívora e um osso para mim vale tanto quanto um pedaço de pau?
- Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou
já levá-la aos tribunais.
E assim fez. Queixou-se ao gavião-de-penacho e
pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, sorteando
para isso doze urubus de papo vazio.
Comparece a ovelha. Fala. Defende-se de forma
cabal, com razões muito irãs das do cordeirinho que o lobo em tempos comeu.
Mas o júri, composto de carnívoros gulosos, não
quis saber de nada e deu a sentença:
- Ou entrega o osso já e já, ou condenamos você à
morte!
A ré tremeu: não havia escapatória!... Osso não
tinha e não podia, portanto, restituir; mas tinha vida e ia entregá-la em
pagamento do que não furtara.
Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a,
espostejou-a, reservou para si um quarto e dividiu o restante com os juízes
famintos, a título de custas...
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Fiar-se na justiça dos poderosos, que tolice!...
Fonte: Conto Brasileiro
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