do cais simbólico, dos fardos,
das malas e da chuva
caindo em torrentes
sobre o cais desmantelado,
caindo em ruínas
eu queria ver à volta de mim,
nesta hora morna do entardecer
no mormaço tropical
desta terra de África
à beira do cais a desfazer-se em ruínas,
abrigados por um toldo movediço
uma legião de cabecinhas pequenas,
à roda de mim,
num vôo magistral em torno do mundo
desenhando na areia
a senda de todos os destinos
pintando na grande tela da vida
uma história bela
para os homens de todas as terras
ciciando em coro, canções melodiosas
numa toada universal
num cortejo gigante de humana poesia
na mais bela de todas as lições:
- Alda do Espírito Santo, em "É nosso o solo sagrado da terra". Lisboa: Ulmeiro, 1978.
Alda Espírito Santo (1926-2010) Escritora, poetisa, jornalista e professora nascida no arquipélago de São Tomé e Príncipe na década de 20, Alda é conhecida como uma das figuras mais importantes na poesia africana de língua portuguesa e por sua atuação na luta pela independência de seu povo da condição de colônia. Sua poesia fala de temas do cotidiano da ilha e do desejo de liberdade. Alda Graça, como também é chamada, chegou a ser deputada e Ministra da Cultura e Informação em São Tomé e Príncipe após a conquista da independência em 1975. Sua obra de poesia é composta pelos livros O jogral das ilhas (1976) e É nosso o solo sagrado da terra: poesia de protesto e luta (1978).
Fonte: Instituto Ling
Nota: o blog manteve a grafia original
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