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Carrossel do Destino, Antônio Nóbrega e Bráulio Tavares



Deixo os versos que escrevi,
as cantigas que cantei,
cinco ou seis coisas que eu sei
e um milhão que esqueci.
Deixo esse mundo daqui,
selva com lei de cassino.

Vou renascer num menino
num país além do mar.
Licença, que eu vou rodar,
no carrossel do destino
Enquanto eu puder viver
tudo o que o coração sente,
o mundo estará presente
passando sem resistir.
Na hora que eu for partir
para as nuvens do divino,
que a viola seja o sino
tocando pra me guiar.
Licença que eu vou rodar
no carrossel do destino.
Romances e epopeias
me pedindo pra brotar
e eu tangendo devagar
a boiada das ideias.
Sempre em busca das colmeias
onde brota o mel mais fino
e um só verso, pequenino,
mas que mereça ficar.
Licença que eu vou rodar
no carrossel do destino.


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