Anteontem eu tinha dezoito anos. Levei dezoito anos para chegar lá. Pisquei, já tinha trinta. Me assustei um pouco, meus filhos cresciam, mas eram crianças. Fui dormir, acordei usando henna, mais por estética do que para esconder meus cabelos grisalhos. Achei bom, sempre quis ter cabelo colorido. Gostaria de azul marinho, mas no meu tempo isso não existia. Tive que entrar na henna mesmo. Daí, pisquei de novo, e ao me olhar no espelho, meu cabelo estava da cor das labaredas do inferno. Cruzes! Me identifiquei com uma vizinha, recalcada e cruel. Pensei com meus botões: “Não quero ficar assim, vou assumir a minha cor natural.” como se cor de cabelo definisse a pessoa. Não me arrependo, acho que fiquei bem com meu cabelo prateado. Por dentro me sentia igual, achava estranho as pessoas me chamarem de senhora. Sou sedentária de nascença, na escola menstruava quatro vezes ao mês, só para ser dispensada das aulas de ginástica. Um dia em que não pude escapar da tortura, era dia de basquete